terça-feira, 10 de novembro de 2009

A GRAÇA DO PERDÃO

A matéria prima da criação é o amor. Quando a Trindade transbordou o amor entre Eles, o mundo foi criado. No centro dessa criação, encontra-se a pessoa humana, excelência desse amor criacional. Criados no amor, para o amor. Qualquer tentativa de viver à margem desse amor é uma descaracterização da pessoalidade. Amar é a condição de ser. Podemos fazer tudo, como nos lembra São Paulo, mas se não tivermos o amor de nada seria ou valeria. O amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta, tudo alcança. Não é rancoroso, nem se encoleriza, não sente inveja ou se envaidece. Lembra-nos o Cântico dos cânticos, águas torrenciais jamais apagarão amor, nem rios poderão afogá-lo. Por isso, São João vai dizer: quem não ama, não conhece a Deus porque Deus é Amor.

Não se pode falar de perdão sem lembrar do pressuposto do amor. Foi para amar que Deus nos criou. O perdão que ofereço, na verdade, é uma prova da minha capacidade de ser melhor. Quem perdoa, é o maior beneficiário do perdão. Por vários motivos: lembra-me a raiz originária do meu ser, recorda-me que o outro é capaz de refazer seus erros, configura-me ao coração amoroso de Jesus, e, o melhor, hominiza-me. E tantos outros benefícios. Acrescente os seus!

Quem sente dificuldade em perdoar, sente dificuldade em amar. Quem não consegue perdoar o outro, tão pouco consegue se perdoar. Perdoar é entrar na dinâmica do amor que se dá, e do amor que se recebe. Amar é movimentar-se, gratuitamente, na direção do outro. Não há expectativa de retorno. Não há frustração caso não haja reciprocidade. Se houver retorno pelo amor que se dá, isto faz bem, ajuda a existir plenamente, mas não se depende do amor retribuído para existir e amar. São Francisco, no século XIII, já intuíra essa verdade: Amar que ser amado!

Perdoar é liberar toda capacidade de amar que guardo dentro de mim e que não me pertence. Meu amor não é meu, é do outro. Perdoar é dizer não ao egocentrismo, que mata as relações humanas. O egocentrismo prejudica as relações, pois vai no sentido inverso da verdadeira fonte de vida: o amor gratuito. Quem cultiva ódio adoece, envelhece precocemente e até se auto-elimina, da forma mais dolorosa. Cientificamente, segundo especialistas, ódio, ressentimento e mágoa provocam aumento da pressão sangüínea, do batimento cardíaco e da tensão nos músculos. Perdoar é mais barato e mais saudável!

Com a palavra, o Mestre do Perdão, Jesus de Nazaré: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que estão fazendo!” (Lc 23, 34). Essas palavras foram pronunciadas, por Jesus, quando os pregos dilacerantes lhes rasgavam a carne na hora da crucifixão. Uma dor indescritível foi experimentada por Ele. A dor do abandono, da incompreensão, da rejeição, da calúnia e da difamação, do ódio do coração humano contra Ele, do silêncio absurdo do Pai... Ali, na cruz, na dor, Jesus se desfigurou humanamente, mas não perdeu a imagem do Divino que habitava seu ser. Ele foi capaz de tudo, menos de deixar de amar. Importava, para Jesus, que Ele não perdesse o foco de sua missão e de sua pessoalidade: o amor. Nem a cruz nem a morte foram capazes de arrancar o amor-perdão do Coração de Jesus. Tenhamos os mesmos sentimentos de Cristo e sejamos felizes, mesmo com os percalços e as intempéries que nos sobressaltam. Amar é o melhor remédio para viver bem! A pior raiva é a que se guarda! Não perca tempo, perdoe agora mesmo!
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Frei Mário Sérgio, ofmcap. Cedido por frei Arnaldo Aragão, ofm conv.

domingo, 8 de novembro de 2009

Como quando a gente coloca na boca aquela gostosa colher de doce da mãe

“Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extradordinárias.” (provérbio africano)

E assim caminhamos, na serenidade. Neste mundo que chamamos pós-moderno, na dinamicidade dos acontecimentos, na mudança repentina das coisas que não possuem aspecto de continuidade, não degustamos mais os acontecimentos.

A degustação se faz pela reflexão atenta - pode ser também desinteressada - e repetitiva, por que não. Os acontecimentos possuem um quê de sabor, mas precisa de duração, de lentidão, de olhar fixo e calmo.

Desse modo, a mudança social acontece também, pois buscamos fazer aquilo que mais precisa e não perdemos tempo com o que poderia nem sequer existir. Fazer coisas pequenas, mas que nem são tão pequenas assim; os lugares que dizemos sem importância guardam um valor inestimável, basta pensar naqueles onde nos sentimos libertos de tudo; a mudança que tanto queremos acontece quando voltamos à inocência originária da nossa vida.

Lá está o frescor inestimável que alenta o coração, saudade-mãe de toda alegria de viver, com desejo de "volta por favor", mas que nos coloca na vida no mesmo instante, pois descobrimos que nada volta, a não ser na lembrança do coração. Ô vida boa de viver...

Deus está no meio de tudo isso e mais um pouco!
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MDT

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Francisco, Franciscano, Deus, Liberdade. Que emaranhado!

Como Francisco certa vez afirmou, seus irmãos devem desejar viver em um único convento: o mundo.
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Na boca de Francisco essa afirmação tem peso. Primeiramente, ele não queria de nada se apropriar, nada mesmo! Assim, sua vida tornou-se um tratado sobre o que significa a liberdade, que não é outra coisa senão, aquela da existência liberta pela descoberta de um sentido maior: Deus está no mundo!
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E o mundo é a história da liberdade de Deus: criou e ama!
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Francisco, franciscano, Deus, Liberdade tornam-se um emaranhado de encontro e transformação vital nos desencontros da vida aí.
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Quanta coisa ainda...
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A dúvida - uma pequeníssima reflexão


"A dúvida pode ser um elo tão poderoso como a certeza."

A dúvida cria possibilidades, lança para frente em um não esperar o que se pensava que fosse. Ao mesmo tempo faz-nos rever a vida e os conceitos prontos.

Para os apressados, dúvida não é relativismo ou desconfiança sem fins exatos, mas princípio concreto para a busca. E para que a busca seja humana.

Respostas?
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MDT

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Espontaneidade e criatividade

Há um dogma no modo de pensar usual e comum, um dogma com o qual todos de antemão concordamos: o ser humano deve ser espontâneo, isto é, deve viver solto, conforme seu gosto, seu sentir, seu achar, suas emoções, porque tem direito a ser feliz.
É engraçado, porém, que não se perceba o seguinte: que quem vive assim, espontaneamente, não realiza nada na vida, não fica feliz, não marca positivamente a vida de ninguém e, quando se vai, vai tarde, esquecido por todos. Por isso, seguir o dogma acima mencionado não é grande sabedoria!

A intuição originária, que havia antigamente por trás da palavra espontâneo, é diferente. Espontâneo vem do latim "spons" que quer dizer "vontade", isto é, querer, luta, busca, empenho de realização de uma busca... Portanto, em latim, espontâneo significa o contrário do que usualmente nós entendemos hoje.

Mas por que, afinal, toda essa consideração? Porque estamos empenhados em nossas atividades eclesiais, comunitárias e pastorais. Neste empenho é importante percebermos que ser cristão, ser Igreja, participar da evangelização, da comunidade, da pastoral não é em nada espontâneo no sentido usual, mas é antes determinação, vontade, empenho, luta, para levar adiante algo que é bom, mas que nos faz resistência e exige doação de nós mesmos.

Nós gostamos da causa do Evangelho: ela nos tocou e toca o coração. O Evangelho é a nossa grande e nobre causa. Sabemos, porém, que o gosto mais verdadeiro é "querer gostar", isto é, doar-se. Quando alguém se empenha, luta, doa a si mesmo, a causa, aos poucos e sempre mais intensamente, começa a se tornar realidade; ela acaba acontecendo. E o Reino de Deus anunciado por Jesus torna-se presente entre nós.

Mas, nisso tudo, o querer e o empenho são importantes demais, porque dão a garantia de continuidade, pois as coisas grandes e nobres somente acontecem na insistência, na constância, na paciência, superando dificuldades, resistências, oposições...

Em nossas comunidades, pastorais e movimentos não faltam desafios, urgências, problemas antigos, novas iniciativas. No empenho de nossas atividades tudo isso se apresenta por primeiro, incutindo-nos certo temor. E se somos conduzidos pelo espontâneo usual poderíamos nos deixar tomar pela lamúria, choro, desânimo... Mas, se nos posicionamos como aqueles que buscam, que lutam, que querem ser colaboradores do Deus de Jesus Cristo na sua causa, aí ressurge a coragem, renova-se a vontade boa e eficaz, recria-se a comunhão...

Esse empenho, diferentemente do espontâneo usual, tem um efeito colateral altamente positivo: o de cutucar a criatividade, arte na qual nós brasileiros somos "peritos". Criatividade, no fundo, é grande habilidade de lidar com as situações desafiadoras, fazendo surgir alternativas que, de tão boas, chegam a surpreender até quem as intuiu. E nossas comunidades e pastorais precisam de vitalidade criativa.

Ao encararmos nossas atividades pastorais queremos, como bons profissionais da causa do Evangelho, ter vontade boa, empenho decidido, querer paciente, luta humilde e pacifica, busca iluminada, atuação eficaz. Afinal, queremos ser fiéis ao dom recebido de sermos seguidores de Jesus e testemunhas do Evangelho.
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Dom Fernando Mason ofm conv. Atual bispo diocesano de Piracicaba