terça-feira, 22 de junho de 2010

Política Diferente

Para re-começar a fazer uma política diferente, conforme a denúncia de dom Dimas:

"A Democracia Representativa
está em crise.
Ela já não responde
aos novos sujeitos históricos,
que exigem
uma participação mais ampla na construção das políticas públicas. Nas circunstâncias atuais,
ela tem seu ponto alto
e quase exclusivo
no momento do voto.
Cumprida essa sua missão,
o eleitor desaparece
como agente político
e delega aos eleitos
a função de agirem em seu nome. Seu ser político
foi outorgado a outrem".

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O intimorato animador

O discípulo missionário se caracteriza essencialmente pela BUSCA. Essa pessoa, intimorata desbravadora de caminhos, independente das estruturas psicológicas as quais está submetida, vive na inquietude da vida, na experiência do êxodo, e este do ponto de vista bíblico de não conforto de um “lugar”.
O trabalho vocacional somente tem sentido e antes de tudo parte de um grande sentido fundamental: DEUS MESMO.
Como sabemos a fé em Jesus Cristo não implica em ruptura com a vida terrena e nem pode ser reduzida ao gesto de glorificar e louvar. Desde a criação de Eva por Deus do lado de Adão temos bem claro que o homem foi criado por Deus em vista do relacionamento, ou seja, a mulher que foi criada do lado de Adão simboliza a situação de igualdade existente entre todos os seres humanos, pois Eva não veio dos pés de Adão para ser escrava e nem de sua cabeça para lhe ser soberana (Boff), mas do lado para ser companheira. Na dinâmica vocacional isso implica em algo deveras importante: o nosso relacionamento com Deus deve partir de uma convivência segura e concreta. Jesus de Nazaré, o Cristo, é nosso Deus e com ele devemos encontrar a Deus. Nesse ínterim, a palavra relacionamento ganha efeitos de variada acuidade na vida cristã, com destaque para o fenômeno que evoca.
As representações de Deus criadas, nas quais colocam Deus fora do mundo pode acarretar num sério risco: Deus deixa de ser experimentável tornando-se objeto da fé. Assim, passamos a crer em verdades sobre Deus, mais do que em Deus mesmo experimentado num relacionamento “carnal”[1]. Essa idéia impede de valorizar a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Não é um Deus que se abaixa com simpatia para com o homem. Como conseqüência de uma pregação de um Deus sem mundo tivemos como efeito a emergência de um mundo sem Deus. Afirmam as grandes filosofias da dúvida: “Deus está morto”. E o complemento não está de todo equivocado: “E nós o matamos”.
No mundo vivido de forma “secularizada”, ocorrente dessa linha filosófica não de todo equivocada[2], o mundo, que se desenvolve a partir da técnica e da ciência, deixa de ser transparência de Deus. O homem não se sente sempre e em cada lugar diante de Deus. A realidade transformada pelo trabalho fala mais ao homem, seu artífice, que de Deus, seu Criador. Embora não seja ausente, é invisível em nosso mundo técnico-científico.
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A provocação de base para esta argumentação neste texto está nas seguintes bibliografias: BOFF, O destino do homem e do mundo: ensaio sobre a vocação humana. Petrópolis: Vozes.2003 e BOFF, Experimentar a Deus hoje. In Experimentar Deus hoje. Petrópolis: Vozes. 1974

[1] ENCARANADA!
[2] Poderemos refletir sobre isso em outros artigos. Ainda, devemos ressaltar aqui que estas palavras não têm preocupação de apresentar-se moralmente.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Discípulos e missionários a serviço das vocações

Estamos em tempo de urgência no que diz respeito ao trabalho vocacional na Igreja. Não tanto por motivos e questões de futuro, mas de sentido: somos todos chamados pela Trindade Santíssima. Isso não é pouco! É algo esplendoroso. Jesus, o missionário do Pai quis e quer contar conosco. Isso aconteceu em toda a História da Salvação desejada e efetuada por Deus, culminante em Jesus de Nazaré, o Cristo. Por isso Se serviu de homens e mulheres para seus porta-vozes no trabalho da libertação do ser humano.
Todos nós acreditamos e somos discípulos de Jesus, e temos que viver como tais, por força do batismo. Discipulado cristão tem fundamento: seguimos a alguém bem determinado, Jesus de Nazaré, vivo, presente, atuante ainda em nossa história, homem da história, situado... Para um serviço de animação vocacional eficaz temos que ter bem claro quem é Jesus. Ainda mais, não basta saber quem é Jesus, muito mais do que isso, temos que nos relacionar com ele com uma intimidade de amizade profunda, sem “ilusões” e muito concretizado. Dizer isso não significa que já não tenhamos uma grande intimidade, mas isso é algo que tem que estar constantemente presente em nossa compreensão religiosa.
Desse modo, uma atenção especial à realidade na qual estamos está em nossa “cartilha de trabalho”. “Eu sou chamado a ser discípulo num lugar”, não importa onde e em qual situação esteja. Daí surge o ser missionário que está estritamente, essencialmente, criteriosamente vinculado ao discipulado.
O trabalho da animação vocacional somente terá êxito quando for, antes de tudo encarado, o SAV, como lugar de partilha e de encontro de pessoas que conscientes de serem vocacionadas ao discipulado missionário se lançam corajosamente nesta grande missão, que na verdade é de toda a Igreja Discípula no mundo.
No relato dos vocacionados da Sagrada Escritura encontramos um sentido exato da obediência a Palavra de Deus a qual todo vocacionado está sujeito. Mas logicamente, cada vocacionado sempre apresenta uma resistência por causa do medo, da dúvida ou mesmo da indisponibilidade diante do chamado. Abraão, Moisés, Jonas, até mesmo Maria (“Senhor, como, não conheço nenhum homem?”), Paulo, etc. No diálogo vocacional entre os dois protagonistas – Deus e o vocacionado – o que impera da parte de Deus será sempre a liberdade com relação a proposta. Deus vai sempre mais insistir, mas nunca obrigar. Deus vai sempre oferecer meios, mas nunca fará no lugar da pessoa aquilo que lhe cabe.
O discipulado é sempre uma resposta a uma proposta que o Senhor dirige ao ser humano. E todo discipulado tem vinculado a si uma missão fundamental. O verbo que sempre aparece com constância é o verbo “sair”. O chamado vocacional implica na saída. Isso quer dizer o seguinte: o chamado de Deus inquieta e des-acomoda, lança pra frente, exige des-instalação e espírito de peregrino, viandante. O anúncio do Evangelho deve ser realizado até os confins da terra, a todas as pessoas sem distinção, ainda hoje.

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MDT

domingo, 13 de junho de 2010

A vocação de Zaqueu

O Evangelho de Lc 19,1-10 traz-nos o relato da vocação-conversão do rico chefe dos publicanos, Zaqueu. Era rico porque defraudava. Mas procurava conhecer quem era Jesus, que sem hesitar se dirigiu ao publicano: "Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa." E continua o texto afirmando que ele "desceu depressa e recebeu-o com alegria."
Ao chamado uma resposta!
Mas, o que desperta a atenção é o fato da multidão estar presente, novamente, no relato de Lucas. Antes deste fato da conversão do publicano, quando da passagem de Jesus por Naim (Lc 7,11-17), a multidão já recebia certo destaque, em dois momentos: primeiro, Jesus estava seguido de uma multidão; e segundo, a viúva também estava acompanhada por uma multidão. Mas o diálogo não leva em consideração a multidão, que aparece apenas quando, após Jesus levantar o jovem filho da viúva, exclama: "Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo."
Este particular ressaltado leva-nos a uma conclusão bem simples. No chamado vocacional não existe multidão. O relacionamento é pessoal: Alguém (a Trindade) chama e o vocacionado responde. A experiência vocacional não é algo da vida que podemos confiar a outros a responsabilidade; a experiência vocacional é muito menos um momento da vida que podemos postergar, deixar para depois... Vocação é compromisso pessoal de engajamento. É momento de arriscar tudo na confiança em Deus que me chama e vai dar força para sair. Esse verbo "sair", tão presente nos relatos vocacionais da Sagrada Escritura (Abraão, Moisés...), hoje desperta medo, porque ele evoca desestabilização, esse verbo incomoda, exige amor e confiança Ao que chama. Mas ao mesmo tempo exige maturidade e consciência do que está para ser realizado.
Deus chama e responsabiliza-se junto com o vocacionado da história a ser construída.
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MDT

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Forma existencial da Páscoa de paixão, morte e ressurreição: Corpus Christi

Jesus não é reconhecido como um Messias sacerdotal, mas profético e real. Também sua morte, que nós os cristãos chamamos justamente "sacrifício", não teve nada dos sacrifícios antigos, ao contrário, foi totalmente o oposto: a execução de uma sentença de morte, por crucificação, a mais infame, sucedida fora dos muros de Jerusalém.
Então, em que sentido Jesus é sacerdote? Disse-nos precisamente a Eucaristia. Podemos voltar a partir dessas simples palavras que descrevem Melquisedeque: "ofereceu pão e vinho" (Gn 14,18). E é isto que Jesus fez na Última Ceia: ofereceu pão e vinho, e neste gesto resumiu totalmente a si mesmo e a sua própria missão. Neste ato, na oração que o precede e nas palavras que o acompanham está todo o sentido do mistério de Cristo, tal e como o expressa a Carta aos Hebreus em uma passagem decisiva, que se faz necessário citar: "Tendo oferecido pelos dias de sua vida mortal - escreve o autor, referindo-se a Jesus - pedidos e súplicas com poderoso clamor e lágrimas pelos quais poderia salvá-lo da morte, foi escutado por sua atitude reverente, e ainda sendo Filho, com o que sofreu e experimentou a obediência; e alcançada a perfeição, converteu-se em causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem, proclamado por Deus Sumo Sacerdote à semelhança de Melquisedeque" (5,8 -10). Neste texto, que claramente alude à agonia espiritual de Getsêmani, a paixão de Cristo se apresenta como uma oração e como uma oferenda. Jesus confronta sua "hora", que o conduz à morte na cruz, imerso em uma profunda oração, que consiste na união da própria vontade com a do Pai. Esta dupla e única vontade é uma vontade de amor. Vivida nesta oração, a trágica prova que Jesus enfrenta é transformada em oferenda, em sacrifício vivo.
Jesus "foi escutado". Em que sentido? No sentido de que Deus Pai o libertou da morte e o ressuscitou. Foi escutado exatamente por seu pleno abandono à vontade do Pai: o desígnio de amor de Deus pôde perfeitamente ser realizado em Jesus que, tendo obedecido até o extremo da morte na cruz, transformou-se em "causa de salvação" para todos aqueles que Lhe obedecem. Transformou-se em Sumo Sacerdote ter tomado Ele mesmo sobre si todo o pecado do mundo, como "Cordeiro de Deus". É o Pai que Lhe confere este sacerdócio no próprio momento em que Jesus atravessa o passo de sua morte e ressurreição. Não é um sacerdócio segundo o ordenamento da lei mosaica (cf. Lv 8 -9), mas "de acordo com a ordem de Melquisedeque", de acordo com uma ordem profética, dependente apenas de sua relação única com Deus.
Jesus foi aperfeiçoado, em grego teleiotheis.
O termo teleiotheis, traduzido exatamente como "fato perfeito", pertence a uma raiz verbal que, na versão grega do Pentateuco, quer dizer, os primeiros cinco livros da Bíblia, sempre usado para indicar a consagração dos antigos sacerdotes. Esta descoberta é muito preciosa, porque nos diz que a paixão foi para Jesus como uma consagração sacerdotal. Ele não era sacerdote de acordo com a Lei, mas chegou a ser de forma existencial em sua Páscoa de paixão, morte e ressurreição: ofereceu-se a si mesmo em compensação e o Pai, exaltando-o acima de toda criatura, o constituiu Mediador universal de salvação.
(Bento XVI)
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Texto completo no sítio http://www.zenit.org/article-25098?l=portuguese

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Cruz e o Girassol

A cruz, como símbolo principal da vida cristã, é nossa referência primeva na certeza de que estamos salvos. O Deus do amor infinito, da gratuidade sem par e sem semelhanças na história da humanidade, o nosso Deus encarnado e vivo em nossa realidade humana, entrega-se incondicionalmente ao cumprimento da vontade do Pai sem restrições quanto sua missão, junto a história dos homens.
Desse modo temos uma certeza: a Trindade voltou sua atenção aos homens. Convive conosco nos chamando a um entrelaçamento de intimidade profunda. É a cruz, sinal dessa atenção, amor e desejo do Pai de seus filhos junto a si e de cada pessoa partilhando a vida como Cristo parte na Eucaristia.
E o girassol?
Essa flor magestosa procura voltar-se sempre para a luz. Como um dos símbolos pascais mais expressivos indica-nos nossa busca. O girassol evoca esse outro âmbito da vocação humana e cristã. Se na Cruz encontramos um símbolo profundo do amor de Deus e de sua atenção a nós humanos, então no girassol encontramos um súmbolo "metafórico" de nossa necessidade da Luz.
Jesus, o Filho de Deus encarnado, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, Homem, é a revelação por excelência da Trindade quando se despoja de sua condição divina para anunciar uma Boa Nova de amor e libertação integral do ser humano (bio-psico-físico-sócio-(cultural)-religioso).
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MDT