terça-feira, 23 de novembro de 2010

ARRISCAR-SE NUMA SAÍDA RUMO AO DESCONHECIDO - PARTE II

(Divulgação devidamente autorizida pelo autor.)

De um Deus que aborda pessoalmente o homem. Mas que o desafia para um risco.
E com isso voltamos novamente à imagem desse Deus, que se manifesta na revelação.
Não um Deus caseiro.
Muito ao contrário, um Deus que chama para o novo, que não deixa o homem descansar porque ele próprio é dinâmico. Isso parece tão bonito e na era da juventude efetivamente entendemos bastante esse traço característico.
E ao contrário dos planos de viagens do Itaú-Turismo na sua oferta publicitária, não há nenhum destino.
“Toma teus rebanhos e todos os teus bens e parte para uma terra que eu te mostrarei!”
Nada de praias ensolaradas com pin-up-girls. Goze a beleza de Miame. Falta até pôr-do-sol com tamareiras no fundo.
Em vez disso, apenas uma palavra: eu te mostrarei para onde. Nada mais.
Nenhum destino final.
Será possível determinar o infinito?
Partida rumo ao desconhecido, comparável ao caminho do homem para a utopia de uma vida ainda não vivida.
Como se Deus já aqui tivesse em vista aquele indeterminado, aquela cobertura para um projeto ainda a ser realizado.
Isso seria uma justificação pedagógica para o modo de seu agir, talvez até haja algo de verdade nisso; uma explicação para esta evidente propriedade de Deus, que o torna tão difícil, então e agora:
Ele deixa a saída aberta.
Não oferece metas fixas.
Oferece só a si:
“Vai, e, quando fores, te mostrarei para onde!”.
Este chamado implica atividade do homem.
Um chamado para a criatividade e a iniciativa própria.
Um Deus que ama o risco!
Quem não parte e não se põe a caminho também não recebe nenhuma orientação sobre o rumo a seguir.
Mas quem ousa e vai não tem nada na mão que possa justificar o seu caminhar.
Mostrar-te-ei para onde!
Quem empreende alguma coisa atendendo tal palavra é um louco. Mas parece que é exatamente isso que Deus quer. Uma segunda propriedade. Por assim dizer uma “mania” do Deus que se revela a Abraão.
Quer que o homem se entregue a ele sem nenhuma reserva. Isso não é fácil. Nem hoje nem naquele tempo. Afinal, como é que ficam os princípios do pensamento econômico, do planejamento da sociedade de consumo, orientada para o desenvolvimento, ou simplesmente a lógica?
Permanece uma mensagem.
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Renold Blank: Deus: uma proposta alternativa. Paulus: 1999. Adaptação das pgs. 18-29

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ARRISCAR-SE NUMA SAÍDA RUMO AO DESCONHECIDO - Parte I

Paz e bem a todos
A partir de hoje, numa seqüência de três partes, nos enriqueceremos com as palavras do professor Renold Blank. A publicação foi gentilmente autorizada pelo autor.

A aventura com Deus, iniciada na dúvida e sob protesto. Certamente nada de grandes iluminações, nada de vozes no sonho. Nem hoje, nem naquele tempo, no século 17 aC , quando um homem parte e com todo seu clã deixa a saturada tranqüilidade de uma riqueza bem adquirida.
Fala-se de Ur na Caldéia.
Nas pastagens junto ao Eufrates ou no escritório da construtora BBC. Nenhuma provável aparição, nem aqui nem lá; e nenhuma voz no sonho, apesar da bela história. Mas, um dia, um homem se faz no caminho, apesar de todas as resistências. E apesar dos protestos das filhas e dos genros.
E se for perguntado para onde vai, não sabe responder.
Mas parte porque Deus o chamou. Porque não lhe deixou descanso, talvez durante anos, enquanto estava sentado diante de sua tenda ou na varanda da casa alugada e sonhava ao pôr-do-sol.
É isso espantoso nessa figura, sobre a qual os estudiosos da Bíblia e os historiadores da civilização ainda hoje continuam a discutir. O que ela encerra não se deixa enquadrar no curso secular dos fatos administrados entre nascimento e morte. Em meio à segurança de um país rico e próspero irrompe um perturbador, que não quer calar e não quer ouvir os argumentos da razão e as objeções dos genros; e esse perturbador é Deus. Já no começo da história da sua ação com os homens, esse Deus aparece como alguém que perturba o descanso.
O descanso de Abraão diante de sua tenda e o dos turistas fotógrafos: o Deus desconhecido, em gótico ou renascentista, concreto armado do fim do século XX ou tijolos nas capelas das fazendas dos latifundiários do Peru, na Argentina e no Brasil. Os sem-terra são enxotados com polícia e cães, e, se o padre não quiser mais rezar a missa, também terá de fugir.
E para dentro dessa realidade Deus lança o seu chamado e começa com o homem uma aventura cujo fim não é previsível. Sobretudo para o envolvido. Talvez esteja aqui o caráter perpetuamente intrigante da história de Abraão. Este Deus revela-se um Deus que age. Um Deus que toma a iniciativa a despeito do bom senso da argumentação lógica, a despeito também das filhas o dos genros, que provavelmente devem ter murmurado entre si contra o velho, “mania de velho”, “agora totalmente caduco”, naqueles dias de partida, cochichando pelos cantos da casa.
O velho não se deixou desviar, e nisso está a grandeza que o transformou em protótipo de todos aqueles que tem fé.
Partida rumo ao desconhecido.
Partida rumo a novas margens, mesmo que essas margens ainda sejam desconhecidas.
Partida, simplesmente seguindo a palavra de um Deus que chama e vocaciona.
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Renold Blank: Deus: uma proposta alternativa. Paulus: 1999. Adaptação das pgs. 18-29