quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Natal dos "sábios" e dos pastores...

Os primeiros que vieram ao pé de Jesus na manjedoura e puderam encontrar o Redentor do mundo foram os pastores, as almas simples. Os sábios vindos do Oriente, os representantes daqueles que possuem nível e nome chegaram muito mais tarde. O motivo é totalmente óbvio.
De fato, os pastores habitavam perto.
Não tinham de fazer mais nada senão «atravessar» (cf. Lc 2, 15), como se atravessa um breve espaço para ir ter com os vizinhos.
Ao contrário, os sábios habitavam longe. Tinham de percorrer um caminho longo e difícil para chegar a Belém. E precisavam de guia e de orientação.
Pois bem, hoje também existem almas simples e humildes que habitam muito perto do Senhor. São, por assim dizer, os seus vizinhos e podem facilmente ir ter com Ele.
Mas a maior parte de nós, homens modernos, vive longe de Jesus Cristo, d’Aquele que Se fez homem, de Deus que veio para o nosso meio.
Vivemos em filosofias, em negócios e ocupações que nos enchem totalmente e a partir dos quais o caminho para a manjedoura é muito longo. De variados modos e repetidamente, Deus tem de nos impelir e dar uma mão para podermos sair da enrodilhada dos nossos pensamentos e ocupações e encontrar o caminho para Ele.
Mas há um caminho para todos. Para todos, o Senhor estabelece sinais adequados a cada um. Chama-nos a todos, para que nos seja possível também dizer:
Levantemo-nos, «atravessemos», vamos a Belém, até junto d’Aquele Deus que veio ao nosso encontro. Sim, Deus encaminhou-Se para nós.
Sozinhos, não poderíamos chegar até Ele.
O caminho supera as nossas forças.
Mas Deus desceu. Vem ao nosso encontro. Percorreu a parte mais longa do caminho. Agora pede-nos: Vinde e vede quanto vos amo. Vinde e vede que Eu estou aqui. Atravessemos para o outro lado! Ultrapassemo-nos a nós mesmos! Façamo-nos viandantes rumo a Deus dos mais variados modos: sentindo-nos interiormente a caminho para Ele;
mas também em caminhos muito concretos, como na Liturgia da Igreja, no serviço do próximo onde Cristo me espera.

«Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11). O Senhor está presente. Desde então, Deus é verdadeiramente um «Deus conosco». Já não é o Deus distante, que, através da criação e por meio da consciência, se pode de algum modo intuir de longe. Ele entrou no mundo. É o Vizinho. Disse-o Cristo ressuscitado aos Seus, a nós: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).
(Bento XVI)

FELIZ NATAL E NO PRÓXIMO ANO ABRA SEMPRE MAIS O SEU CORAÇÃO AO MISTÉRIO DO AMOR VINDO A NÓS NA POBREZA DA MANJEDOURA!
SEJA FORTE!
SEJA FELIZ!
SEMPRE O AMOR!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ARRISCAR-SE NUMA SAÍDA RUMO AO DESCONHECIDO - PARTE II

(Divulgação devidamente autorizida pelo autor.)

De um Deus que aborda pessoalmente o homem. Mas que o desafia para um risco.
E com isso voltamos novamente à imagem desse Deus, que se manifesta na revelação.
Não um Deus caseiro.
Muito ao contrário, um Deus que chama para o novo, que não deixa o homem descansar porque ele próprio é dinâmico. Isso parece tão bonito e na era da juventude efetivamente entendemos bastante esse traço característico.
E ao contrário dos planos de viagens do Itaú-Turismo na sua oferta publicitária, não há nenhum destino.
“Toma teus rebanhos e todos os teus bens e parte para uma terra que eu te mostrarei!”
Nada de praias ensolaradas com pin-up-girls. Goze a beleza de Miame. Falta até pôr-do-sol com tamareiras no fundo.
Em vez disso, apenas uma palavra: eu te mostrarei para onde. Nada mais.
Nenhum destino final.
Será possível determinar o infinito?
Partida rumo ao desconhecido, comparável ao caminho do homem para a utopia de uma vida ainda não vivida.
Como se Deus já aqui tivesse em vista aquele indeterminado, aquela cobertura para um projeto ainda a ser realizado.
Isso seria uma justificação pedagógica para o modo de seu agir, talvez até haja algo de verdade nisso; uma explicação para esta evidente propriedade de Deus, que o torna tão difícil, então e agora:
Ele deixa a saída aberta.
Não oferece metas fixas.
Oferece só a si:
“Vai, e, quando fores, te mostrarei para onde!”.
Este chamado implica atividade do homem.
Um chamado para a criatividade e a iniciativa própria.
Um Deus que ama o risco!
Quem não parte e não se põe a caminho também não recebe nenhuma orientação sobre o rumo a seguir.
Mas quem ousa e vai não tem nada na mão que possa justificar o seu caminhar.
Mostrar-te-ei para onde!
Quem empreende alguma coisa atendendo tal palavra é um louco. Mas parece que é exatamente isso que Deus quer. Uma segunda propriedade. Por assim dizer uma “mania” do Deus que se revela a Abraão.
Quer que o homem se entregue a ele sem nenhuma reserva. Isso não é fácil. Nem hoje nem naquele tempo. Afinal, como é que ficam os princípios do pensamento econômico, do planejamento da sociedade de consumo, orientada para o desenvolvimento, ou simplesmente a lógica?
Permanece uma mensagem.
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Renold Blank: Deus: uma proposta alternativa. Paulus: 1999. Adaptação das pgs. 18-29

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ARRISCAR-SE NUMA SAÍDA RUMO AO DESCONHECIDO - Parte I

Paz e bem a todos
A partir de hoje, numa seqüência de três partes, nos enriqueceremos com as palavras do professor Renold Blank. A publicação foi gentilmente autorizada pelo autor.

A aventura com Deus, iniciada na dúvida e sob protesto. Certamente nada de grandes iluminações, nada de vozes no sonho. Nem hoje, nem naquele tempo, no século 17 aC , quando um homem parte e com todo seu clã deixa a saturada tranqüilidade de uma riqueza bem adquirida.
Fala-se de Ur na Caldéia.
Nas pastagens junto ao Eufrates ou no escritório da construtora BBC. Nenhuma provável aparição, nem aqui nem lá; e nenhuma voz no sonho, apesar da bela história. Mas, um dia, um homem se faz no caminho, apesar de todas as resistências. E apesar dos protestos das filhas e dos genros.
E se for perguntado para onde vai, não sabe responder.
Mas parte porque Deus o chamou. Porque não lhe deixou descanso, talvez durante anos, enquanto estava sentado diante de sua tenda ou na varanda da casa alugada e sonhava ao pôr-do-sol.
É isso espantoso nessa figura, sobre a qual os estudiosos da Bíblia e os historiadores da civilização ainda hoje continuam a discutir. O que ela encerra não se deixa enquadrar no curso secular dos fatos administrados entre nascimento e morte. Em meio à segurança de um país rico e próspero irrompe um perturbador, que não quer calar e não quer ouvir os argumentos da razão e as objeções dos genros; e esse perturbador é Deus. Já no começo da história da sua ação com os homens, esse Deus aparece como alguém que perturba o descanso.
O descanso de Abraão diante de sua tenda e o dos turistas fotógrafos: o Deus desconhecido, em gótico ou renascentista, concreto armado do fim do século XX ou tijolos nas capelas das fazendas dos latifundiários do Peru, na Argentina e no Brasil. Os sem-terra são enxotados com polícia e cães, e, se o padre não quiser mais rezar a missa, também terá de fugir.
E para dentro dessa realidade Deus lança o seu chamado e começa com o homem uma aventura cujo fim não é previsível. Sobretudo para o envolvido. Talvez esteja aqui o caráter perpetuamente intrigante da história de Abraão. Este Deus revela-se um Deus que age. Um Deus que toma a iniciativa a despeito do bom senso da argumentação lógica, a despeito também das filhas o dos genros, que provavelmente devem ter murmurado entre si contra o velho, “mania de velho”, “agora totalmente caduco”, naqueles dias de partida, cochichando pelos cantos da casa.
O velho não se deixou desviar, e nisso está a grandeza que o transformou em protótipo de todos aqueles que tem fé.
Partida rumo ao desconhecido.
Partida rumo a novas margens, mesmo que essas margens ainda sejam desconhecidas.
Partida, simplesmente seguindo a palavra de um Deus que chama e vocaciona.
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Renold Blank: Deus: uma proposta alternativa. Paulus: 1999. Adaptação das pgs. 18-29

sábado, 23 de outubro de 2010

Discípulo missionário em busca do sentido da vida

Do sentido vive o ser humano. Qualquer pessoa, de qualquer nacionalidade, seja qual idade estiver, está a “mendigar” um sentido profundo para a vida. Do ver a luz pela primeira vez ao fechar último dos olhos estamos buscando.
A nossa fé, ensinada por Jesus e tornada mandato para difusão a todo o mundo, está plenamente envolvida desta intenção: ser sentido para o humano e o sentido mais profundo, pois deixamos de lado a epidérmica compreensão da vida para ir ao fundo da existência. Em Jesus temos uma certeza: Deus está presente junto a nós em nossa vida, caminha conosco, faz história na nossa história pessoal e social.
Mas não podemos dizer isso apenas como uma notícia de jornal. Temos que sentir na carne que Deus, o Senhor que me dá a vida, e não coisas simplesmente, este nosso Deus que se dá a si mesmo, sem medo do que faremos com Ele, suplica de todos nós humanos uma disposição de arriscar-se Nele, deixar tudo, segui-Lo num amor sem condições.
Estes tempos em que vivemos, o mundo (as pessoas) precisamos de cristãos que dêem um grande testemunho de amor por Deus-Amor. Seremos significativos para a sociedade de hoje na medida em que não medirmos esforços na luta pela implantação do Reino de Deus no meio dos homens.
Mas para isso precisamos de uma compreensão profunda do Reino. A preocupação central de Jesus em seu ministério foi a difusão do Reino. Essa é a expressão correta: DIFUSÃO DO REINO DE DEUS. Então, em que consiste o Reino: segundo o Evangelho é o mundo transformado pela vivência concreta da justiça, numa vida impregnada pelo sentido do amor que distribui igualitariamente todos os bens da terra a todos os homens. Tudo isso é u-topia (não-lugar, significado desta palavra)? Resposta: NÃO! Isso é nossa missão como cristãos, de continuar, como mandato, o que Jesus começou. O Reino de Deus NÃO É algo que devemos esperar para o futuro, mas é realidade que tem que acontecer já, pois “o Reino de Deus, como disse Jesus, está em vosso meio.” O Reino não constitui um território, mas o modo de atuar de Deus, mediante o qual se faz senhor sobre toda a sua criação. Reino de Deus é o sentido das coisas, de tudo e do todo voltado para Deus (Boff).
Isso cobre de sentido a vida das pessoas, pois não é apenas esforço para mudar o exterior, mas empenho de mudar-se a si mesmo conjuntamente: mudar toda vida, desde o interior, que assim, se difundirá na vida das pessoas todas.
Deus quer participar de nossa vida, para isso basta que arrebentemos a tranca que fecha a porta da nossa vida e deixemos que Ele arme em nós sua tenda (Jo 1). Daí sim saberemos o que é felicidade, o que é vida rica de sentido, o que é deixar tudo para seguir o mestre Jesus...
Avancemos, pois como afirmou São Francisco no final de sua vida, é preciso começar, pois até agora pouco ou nada fizemos! CORAGEM!
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MDT

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Uma animação vocacional que forma discípulos missionários


(Documento de preparação ao 3º Congresso Vocacional do Brasil 2010)
Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada - CNBB

87. A vocação ao discipulado missionário é convocação à comunhão em sua Igreja. No processo de formação dos discípulos missio­nários de Jesus Cristo um lugar particular tem a pastoral vocacio­nal que acompanha cuidadosamente todos os que o Senhor chama a servir à Igreja no sacerdócio, na vida consagrada ou no estado laical. Diz Aparecida que este serviço vocacional é responsabi­lidade de todo o povo de Deus. Inicia na família, continua na co­munidade cristã, dirige-se às crianças e especialmente aos jovens. Finalidade dessa pastoral é ajudar a descobrir o sentido da vida e o projeto que Deus tem para cada um, acompanhando-os em seu processo de discernimento.

88. O Documento de Aparecida contempla os elementos fundamen­tais do serviço de animação vocacional, como o entendemos hoje, a saber:

1) responsabilidade de toda a Igreja, o povo de Deus;
2) integrada na pastoral ordinária, de conjunto e orgânica;
3) a dimensão eclesial e específica da vocação dos discípulos missionários a par­tir do Batismo e do sacerdócio comum (ministros ordenados, vida consagrada, cristãos leigos e leigas);
4) o ambiente propício para o flo­rescimento da vocação, a família e a comunidade cristã, completa­do pela escola católica e demais instituições eclesiais;
5) os interlocu­tores imediatos da animação vocacional, as crianças e os jovens;
6) a necessidade de um processo de acompanhamento e discernimento;
7) e a mesma natureza da animação vocacional, que consiste em aju­dar a descobrir o sentido da vida, a vocação, no projeto que Deus tem para cada um.

91. Discípulo é aquele que se coloca a caminho no seguimento de um mestre, aprendendo dele e condividindo com ele ideais e projetos de vida. Na perspectiva da fé cristã o discipulado consiste em se­guir uma pessoa porque se ama, completada sempre com a missão. Por isso que todo discípulo é missionário. O discípulo é alguém chamado por Jesus Cristo para com ele conviver, participar de sua Vida, unir-se à sua Pessoa e aderir à sua missão, colaborando com ela. Na Igreja, os discípulos missionários têm vocações específi­cas (vida leiga, vida consagrada e o sacerdócio ministerial) e são chamados ao fiel cumprimento de sua vocação batismal. De fato a condição do discípulo brota de Jesus Cristo como de sua fonte, pela fé e pelo batismo, e cresce na Igreja, comunidade onde todos os seus membros adquirem igual dignidade e participam de diversos ministérios e carismas. Desse modo, realiza-se na Igreja a forma própria e específica de viver a santidade batismal a serviço do Reino de Deus.

domingo, 3 de outubro de 2010

A vocação de nosso Irmão Francisco, da cidade de Assis

Estamos a adentrar o mês das missões, e logo no seu início, no dia 04 de outubro, vamos celebrar a solenidade deste grande homem da história da humanidade chamado Francisco. E nossa paróquia da Exaltação da Santa Cruz, por ser de tradição franciscana não pode deixar de festejar esse nosso grande amigo, amante do Crucificado.
Nascido no vale da Úmbria, na cidade de Assis, ele levou vida bastante “folgada” na juventude. Era filho de mercadores de panos. Sua família, ascendente no que diz respeito à questão econômica e conseqüentemente social devido à irrupção da comuna e queda do feudalismo, pela qual sua família conheceu grande prosperidade. Francisco auxiliava seu pai Bernardone no comércio dos panos, e por isso desenvolveu boa habilidade com relação aos dotes para comercializar.
Quando alcançou a juventude quis tornar-se cavaleiro e por isso armou-se magnificamente, como um grande príncipe, para assim alcançar status social e reconhecimento. Conta a Legenda dos Três companheiros que o animado jovem alistou-se no exército de um tal conde Gentil, ou Gualter de Briene, e partiu para Apúlia. Aqui começa a “saga religiosa” deste homem que durará até o fim de sua vida. Após certa visão, entrega toda sua indumentária a um pobre cavaleiro. Em Espoleto sentiu-se adoentar. No sono escuta alguém lhe perguntar: “Francisco, quem te pode fazer melhor? O senhor ou o servo?” O qual ele respondeu “o Senhor”. “Então, porque deixas o Senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?” e Francisco prontamente respondeu: “SENHOR QUE QUERES QUE EU FAÇA?
Nesta pergunta está o segredo de toda a vida do Poverelo. Sabe o que acontece quando dirigimos essa pergunta a Deus? Ele responde, como fez com Francisco: “Volta para tua terra e te será dito o que deverá fazer”.
O discernimento da vocação somente pode se dar se ocorrer uma verdadeira conversão de vida. Sempre nos vem a tentação de acrescentar a “conversão” a palavra “interior”. Mas não vamos fazer isso, pois compreendemos que o ser humano é um todo global que envolve a unidade do exterior com o interior. Dizer isso é afirmar que em Francisco encontramos uma mudança de direção na vida global dele (psico-físico-social-religioso e porque não lúdico), na qual podemos sim, afirmar que ocorreu diferenciação dos atos antes praticados, mas a sua disposição interior de generosidade, habilidade mercantil, largueza de espírito, espírito prático, etc, não foram deixadas para trás. Pelo contrário! Foram aperfeiçoadas pelo espírito religioso que agora lhe tomava a existência e convertidas para outro estilo de vida, antes “mundano”, isto é, com objetivo de simples sucesso pessoal, para o dom oblativo de si mesmo para a causa do Evangelho. Passa a viver retirado para discernir com mais afinco a Voz de Deus do que poderia ser sua própria voz ou vozes dos outros, e direcionar sua vida para o caminho da vontade de Deus.
Em Francisco surpreende sua capacidade de, ainda em nossos tempos, despertar a nossa atenção, mesmo depois de oitocentos anos de história e de sua partida para a casa do Pai, num sábado de outubro, dia 03, no ano de 1226. Não fica uma pergunta de fundo? Porque??? Não tenho a pretensão de responder a isso, mas, penso que aqui podemos aplicar o princípio Gamaliel, qual seja, “se o seu intento ou sua obra provém dos homens, destruir-se-á por si mesma; se vem de Deus... (At 5, 38b-39). Claro está que um dia, se porventura os franciscanos não existirem mais, a vida franciscana continuará vigente, pois é movimento evangélico. E os franciscanos só podem existir porque a sua raiz é forte.
Seja um franciscano! Ou secular (leigo sem consagração regular dos votos vivendo na própria família), ou frade (com consagração pelos votos religiosos), ou uma irmã (também consagrada). Ou ainda, existem muitos outros modos como a Juventude Franciscana (Jufra).
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MDT

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Os vocacionados da Sagrada Escritura

Vamos refletir neste artigo sobre os vocacionados que encontramos na Sagrada Escritura. Logicamente é muito difícil falar de modo tão geral e em poucas linhas dos vocacionados da Bíblia. De modo específico podemos falar do espírito que os animava. Quando se diz espírito quer dizer a força motora que impulsiona e conduz para frente como inspiração transformadora da vida.
Este espírito que “está por trás” é o chamado de Deus. Tantas e tantas vezes falamos e repetimos sobre o chamado (vocação), mas poucas vezes deixamos isso ressoar em nossa vida, devido à correria em que nos encontramos na vida cotidiana. Como fazer ressoar? Deixando ressoar! O que é visto todo dia deixa de ser “estranho” devido à convivência diária. Deixar de ser estranho é um perigo, pois damos sempre como descontados que seja conhecido o real. E muitas vezes deixamos por descontado o que na verdade já está morto. Uma pergunta deve sempre estar presente: surpreendo-me, ainda, com o chamado de Deus?
Explicando melhor: ninguém pode negar que comer pizza, macarrão, bolo, torta etc, sejam coisas muito boas, mas de vez em quando, apenas. Se começarmos a comer todos os dias estas coisas não vamos conseguir nem sequer dar um pequeno aperto no passo que as pernas vão começar a tremer. O que dá ao corpo força e disposição é o arroz e feijão que comemos todos os dias repetidamente. E nunca enjoamos de comer arroz e feijão todos os dias. O nosso arroz e feijão cristão é: “SOMOS CHAMADOS” por DEUS.
Aprofundando mais podemos dizer, no lugar de afirmar “sentir-se chamado”, “encontro-me chamado”. Isso aconrteceu com os vocacionados da Bíblia. Sim, afirma o biblista frei Carlos Mesters: “Deus tem vocação e se compromete com ela chamando a todos nós”. A vocação de Deus é escutar o chamado do povo que sofre (cf Ex 2,23-25). Encontrar-se chamado marca a existência. O cristão acredita e confessa que Deus existe. Quando afirmamos “Deus existe”, não o podemos dizer do mesmo modo “árvore existe”, porque afirmar “Deus existe” compromete a vida, cobra engajamento ao que se afirma, força ao posicionamento existencial (Boff). Isso, com relação à vocação, tem implicâncias vitais, tais como, temos que acreditar com a vida que Deus convoca pró-vocando, isto é, chamando para a frente o ser humano. Deus vocaciona e “missiona” o ser humano.
Aqui tem fundamento primordial o que Deus disse a Moisés: “VAI! ESTOU COM VOCÊ!” (Ex 3,12). Para tal temos que nos exercitar para o silêncio, não só dos ouvidos, mas de todo o ser disposto a entregar-se a Deus confiando e caminhando com Ele. Assevera o papa Bento XVI recentemente na Santa Missa em Bellahouston Park (Glasgow), no dia 16 de Setembro de 2010, na visita ao Reino Unido: “O Evangelho recorda-nos que Cristo continua a enviar os seus discípulos pelo mundo, para anunciar a vinda do seu Reino e levar a sua paz ao mundo, passando de casa em casa, de família em família, de cidade em cidade.”
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MDT

23/09/2010: DIA DE SÃO PIO DE PIETRELCINA


CONFIRA O SITE TELE RÁDIO PADRE PIO

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mensagem do Papa para a Jornada Mundial da Juventude de Madrid 2011



Vocação e Bíblia = Palavra de Deus

Vocação e Bíblia denotam uma única perspectiva concreta: todas as duas são Palavra de Deus às pessoas. Nesse sentido, faz-se necessário adentrar na dinâmica vital da ação de Deus direcionada aos homens de cada tempo.
Toda pessoa tem vocação que vem de Deus. Seja a vocação qual for, quer dizer que o homem está diante de Deus, porque acima de tudo, para responder ao chamado de Deus não se pode estar estagnado. O que isso quer dizer? Vocação é caminhar, deslocar-se, estar atento ao que fala quem está chamando, pois no fundo está um grande ideal de partida rumo ao desconhecido, como aconteceu com Abraão, Moisés, Paulo, Maria, Francisco de Assis, enfim, todos os vocacionados da história que não se fizeram surdos aos apelos de Deus e corajosamente largaram tudo e partiram (Mt 13, 44-46). No profundo do coração estava o anseio do serviço a Deus e aos outros.
Deus ama o ser humano e por isso o vocaciona, para que sua vida tenha sentido. Como afirmou o grande teólogo Schillebeeckx “os homens são as palavras com as quais Deus narra sua história”, ou seja, com o homem e no homem podemos encontrar a ação de Deus concreta, no sentido de que falar de Deus é não elaborar abstrações fora da realidade, mas falar Deus implica estar atento ao real contexto no qual estamos situados para poder discernir seus sinais de chamado. Enquanto os meios de comunicação olham o ser humano como ser potencialmente consumidor, atribuindo-lhe tal função consumista, Deus chama cada pessoa para construir uma história diferente, onde o que impera é seu amor salvador.
Contudo, a Palavra de Deus direcionada às pessoas via Bíblia ou vocação, tem no fundo de si a responsabilidade de assumir o desafio da resposta a Deus. Como uma sociedade essencialmente consumista que se define por seguranças sejam econômicas, familiares ou grupais, a vocação, de modo especial a religião como um todo, corre o sério perigo de se apresentar como “light e bonita”, o que pode fazer desaparecer o senso do desafio, da escolha e da renúncia permanente por amor a Deus e aos outros (cf. Imoda e Kiely, Buscando Jesus).
A finalidade da vocação é o dom de si mesmo. Por isso, uma pessoa que não tem a capacidade do autodesprendimento em vista do chamado feito por Deus, de sua Palavra libertadora, por uma abertura de seu coração deixando tudo para segui-lo, pode estar trilhando pela estrada do sem-sentido desmotivador e empobrecedor das perspectivas de vida. Abramos o coração e toda nossa vida a Deus e não construamos muros de separação entre a Trindade e nós.
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MDT

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Bíblia e vocação: realidade dinâmica

“A Bíblia é como uma obra de arte. Quando um artista tem uma inspiração, ele procura expressá-la. A poesia ou a imagem que daí resulta carrega dentro de si uma inspiração. A inspiração é como a força elétrica que corre invisível pelos fios de cobre...” (frei Carlos Mesters)
A Sagrada Escritura, que é Palavra de Deus aos homens de todos os tempos, apresenta uma realidade dinâmica com relação ao Homem e a Deus: essa realidade dinâmica chamamos DECISÃO.
A realidade vocacional implica uma dupla direção vital. Deus vem ao encontro da pessoa, a chama, e o ao mesmo tempo a pessoa chamada deve decidir-se. O maior empecilho em nossos dias está relacionado à capacidade e competência para decidir-se. Decisão implica, sem dúvida, renúncias, implica caminhar numa direção, não com os olhos tapados como um alienado, mas concentrado na decisão assumida.
Na Bíblia encontramos todo tipo de vocacionado: o corajoso, o medroso, o temperamental, enfim, tantos tipos de realidades que não deixam de transparecer para nós que Deus dialoga com todos estes e os confia a missão de falar em nome Dele. Na verdade, Deus ama a condição humana, por isso se encarna e é humano do modo como só ele pode ser humano, como afirmava o papa Leão Magno.
“A Bíblia é a história da vocação de um povo. É o álbum de fotos das pessoas chamadas, homens e mulheres, rapazes e moças, jovens e velhos, casados e solteiros. É o espelho de nossa caminhada, a história de nossa vocação.” (frei C. Mesters)
Neste mês da Bíblia vamos intensificar nosso relacionamento com Deus através de sua Palavra e desse modo nos animar ainda mais em nossa vocação já discernida ou a ainda a discernir.
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MDT

FATO VERÍDICO!

Fato ocorrido em 1892, verdadeiro e integrante de biografia.Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário, que lia o seu livro de ciências. O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia e estava aberta no livro de Marcos. Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:

- O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?
- Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?
- Mas é claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a História Universal.Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda crêem que Deus tenha criado o mundo em seis dias. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.

- É mesmo? E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia?

- Bem, respondeu o universitário, como vou descer na próxima estação,falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência. O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário. Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo sentindo-se pior que uma ameba.

No cartão estava escrito:
Professor Doutor Louis Pasteur!
Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

III Congresso Vocacional do Brasil: sempre-nova pedagogia do Encontro

Entre os dias 3 e 7 de setembro, na cidade de Indaiatuba, no bairro de Itaici, realizar-se-á o III Congresso Vocacional do Brasil. Deve ser dito em primeiro lugar, que este evento constitui um acontecimento da Igreja como um todo e não de uma pastoral específica. Porque se deve afirmar isto? Unicamente para que tenhamos consciência bem definida de que a Igreja é a Assembléia dos chamados e falar de vocação toca-nos no interior profundo de nossa vida, pessoalmente.
O tema do III Congresso será Discípulos Missionários a serviço das vocações, com o lema Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações (Mt 28,19). Esse Congresso marca a sequência e continuação dos outros dois anteriores (1999 e 2005), nos quais cada um colaborou com uma temática específica e um ideário motivador dos trabalhos da animação vocacional em nosso país. Não vou abordar aqui cada um dos congressos, convidando o leitor a fazer uma consulta ao texto-base deste III Congresso. Mas desejo ir direto ao assunto pelo qual parece que o III Congresso irá ater-se.
No despertar da vocação de cada pessoa está no centro o encontro com Jesus de Nazaré, o Cristo, que nos leva a conversão da vida. Toda vocação constitui um diálogo entre o chamado e Aquele que chama. Essas são premissas básicas da realidade vocacional. Do encontro com Jesus, diz o texto-base, nasce o discipulado, o seguimento e a missão. O serviço de animação vocacional da Igreja no Brasil tem que desenvolver uma pedagogia na qual deve se levar cada batizado, cada pessoa ao encontro com Jesus, que materialize no conhecimento da vida de Cristo e consequentemente conduza-nos a conversão pessoal e também comunitária gerando a missão.
Discipulado e missão não são duas coisas separadas, mas pelo contrário, uma implica a outra necessariamente, pois quem se apaixona tem a necessidade de expandir seu amor. Ao chamado segue a certeza: Deus fala “Vai! Estou com você!” (Ex 28,20). Fala a Moisés, aos profetas, aos apóstolos e a nós hoje. Responder a vocação, ser generoso para com a proposta da Trindade aos seres humanos é a certeza de que Deus está próximo e caminha conosco. Viver a vida a partir deste princípio transforma o medo em possibilidade de mudança, a comodidade em inquietação, o passivismo em indignação.
A grande mensagem que este III Congresso deixará para a Igreja no Brasil será de convocar todos os cristãos a um compromisso responsável de responder ao chamado diante mesmo da realidade que se nos apresenta, numa nova visão de mundo e de homem. O Evangelho de Jesus Cristo é sempre nova possibilidade de renovação e de esperança ao homem de todos os tempos.
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MDT

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Vocação: compromisso e responsabilidade

Sabemos claramente que vocação é chamamento de Alguém que somente chama porque se interessa pelo seu interlocutor. Para uma compreensão mais profunda da vida somente podemos admitir: quem nos chama é o Deus da vida que nos doa a vida e nos faz pessoa e apenas cobra de nós que vivamos como pessoa e nada mais.
Nos vocacionados da Sagrada Escritura vemos claramente uma dinâmica que desperta nossa atenção. Entre Deus e o vocacionado estabelece-se um tipo de relação que é real, concreto, vivencial, vis-a-vis, enfim, presencial. O vocacionado está presença de Deus. Em outras palavras Deus é transparente ao humano. A maior dificuldade na prática social em nossos tempos, com relação à sociedade como um todo, está nessa incompreensão no que diz respeito a presença de Deus real frente a história vivencial. Diz-se acreditar em Deus, mas vivemos como se Ele não existisse.
Outrossim, fundamentados na Palavra de Deus, sem dúvida, não podemos afirmar outra coisa que não seja: Deus chama porque Ele é o Amor. Na história da ação de Deus na história dos homens, Deus se mistura em nossa realidade concreta, sempre em defesa de seu povo, e este escravizado por tantas vicissitudes se encontra com seu Deus na concretude dos acontecimentos, tanto que, o povo da Bíblia fala de Deus é narrando acontecimentos.
Deus não se contenta em agir sozinho, mas conta com a colaboração livre de pessoas, muitas vezes consideradas incapazes e resistentes (p. ex. Moisés), outras medrosas (p. ex. o profeta Jeremias), em alguns casos pessoas renitentes (p. ex. Jonas), ainda brutas e rústicas demais (p. ex. Pedro) ou até mesmo perseguidores (p. ex. Paulo). A aventura com Deus, iniciada na dúvida e sob protesto. Certamente nada de grandes iluminações, nada de vozes no sonho. O dado principal que marca a vida destas pessoas é a partida.
Partida rumo ao desconhecido.
Partida rumo a novas margens, mesmo que essas margens ainda sejam desconhecidas.
Partida, simplesmente seguindo a palavra de um Deus que chama e vocaciona.
De um Deus que aborda pessoalmente o homem. Mas que o desafia para um risco. (Renold Blank)
Com isso podemos concluir: Deus chama para se relacionar com o ser humano e para colocar em ação seu projeto de salvação, sem o qual o ser humano não pode encontrar a felicidade plena, que consiste na vinda do Reino de Deus no meio do povo pela prática da justiça, da paz, da igualdade fraterna e do AMOR. E isso acontece quando o compromisso gera responsabilidade pessoal e comunitária (social) em vista da defesa do ser humano.
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MDT

sábado, 24 de julho de 2010

Plebiscito Popular

O Plebiscito Popular pelo limite da propriedade da terra será o ato concreto do povo brasileiro contra a concentração de terras no país, que é o segundo maior concentrador do mundo, perdendo apenas para o Paraguai. Esta consulta popular é fruto da Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra, promovida pelo Fórum Nacional da Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA) desde o ano 2000.

A campanha foi criada com o objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade brasileira sobre a necessidade e a importância de se estabelecer um limite para a propriedade. Mais de 50 entidades, organizações, movimentos e pastorais sociais que compõem o FNRA estão engajadas na articulação massiva em todos os estados da federação.
Cada cidadã e cidadão brasileiro será convidado a votar entre os dias 01 e 07 de setembro, durante a Semana da Pátria, junto com o Grito dos Excluídos, para expressar se concorda ou não com o limite da propriedade. O objetivo final é pressionar o Congresso Nacional para que seja incluída na Constituição Brasileira um novo inciso que limite a terra em 35 módulos fiscais, medida sugerida pela campanha do FNRA. Áreas acima de 35 módulos seriam automaticamente incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária.
"A Campanha da Fraternidade deste ano também propõe como gesto concreto de compromisso a participação no plebiscito pelo limite da propriedade. Um limite para a propriedade faz parte de uma nova ordem econômica a serviço da vida", afirmou Dirceu Fumagalli, membro da coordenação nacional da CPT. Para ele, uma consulta popular, mais do que obter resultados concretos com a votação, é um processo pedagógico importante de formação e conscientização do povo brasileiro sobre a realidade agrária. "São milhares de famílias acampadas à espera de uma reforma agrária justa. São índices crescentes da violência no campo. É o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos. Tudo isso tem relação direta com a absurda concentração de terras no Brasil."
Segundo Luiz Claudio Mandela, membro da coordenação colegiada da Cáritas Brasileira, os promotores do plebiscito querem dialogar com a sociedade sobre a concentração de terras no Brasil. "Isso interfere na estrutura política, social, econômica e geográfica do país", ressaltou. De acordo com Mandela, durante toda a campanha estão sendo coletadas assinaturas para que esta proposta seja convertida em um projeto de iniciativa popular. "Para isso precisamos de, no mínimo, 1,5 milhão de assinaturas. Mas pretendemos superar esta meta."
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Do endereço http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=1&noticiaId=1393

terça-feira, 22 de junho de 2010

Política Diferente

Para re-começar a fazer uma política diferente, conforme a denúncia de dom Dimas:

"A Democracia Representativa
está em crise.
Ela já não responde
aos novos sujeitos históricos,
que exigem
uma participação mais ampla na construção das políticas públicas. Nas circunstâncias atuais,
ela tem seu ponto alto
e quase exclusivo
no momento do voto.
Cumprida essa sua missão,
o eleitor desaparece
como agente político
e delega aos eleitos
a função de agirem em seu nome. Seu ser político
foi outorgado a outrem".

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O intimorato animador

O discípulo missionário se caracteriza essencialmente pela BUSCA. Essa pessoa, intimorata desbravadora de caminhos, independente das estruturas psicológicas as quais está submetida, vive na inquietude da vida, na experiência do êxodo, e este do ponto de vista bíblico de não conforto de um “lugar”.
O trabalho vocacional somente tem sentido e antes de tudo parte de um grande sentido fundamental: DEUS MESMO.
Como sabemos a fé em Jesus Cristo não implica em ruptura com a vida terrena e nem pode ser reduzida ao gesto de glorificar e louvar. Desde a criação de Eva por Deus do lado de Adão temos bem claro que o homem foi criado por Deus em vista do relacionamento, ou seja, a mulher que foi criada do lado de Adão simboliza a situação de igualdade existente entre todos os seres humanos, pois Eva não veio dos pés de Adão para ser escrava e nem de sua cabeça para lhe ser soberana (Boff), mas do lado para ser companheira. Na dinâmica vocacional isso implica em algo deveras importante: o nosso relacionamento com Deus deve partir de uma convivência segura e concreta. Jesus de Nazaré, o Cristo, é nosso Deus e com ele devemos encontrar a Deus. Nesse ínterim, a palavra relacionamento ganha efeitos de variada acuidade na vida cristã, com destaque para o fenômeno que evoca.
As representações de Deus criadas, nas quais colocam Deus fora do mundo pode acarretar num sério risco: Deus deixa de ser experimentável tornando-se objeto da fé. Assim, passamos a crer em verdades sobre Deus, mais do que em Deus mesmo experimentado num relacionamento “carnal”[1]. Essa idéia impede de valorizar a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Não é um Deus que se abaixa com simpatia para com o homem. Como conseqüência de uma pregação de um Deus sem mundo tivemos como efeito a emergência de um mundo sem Deus. Afirmam as grandes filosofias da dúvida: “Deus está morto”. E o complemento não está de todo equivocado: “E nós o matamos”.
No mundo vivido de forma “secularizada”, ocorrente dessa linha filosófica não de todo equivocada[2], o mundo, que se desenvolve a partir da técnica e da ciência, deixa de ser transparência de Deus. O homem não se sente sempre e em cada lugar diante de Deus. A realidade transformada pelo trabalho fala mais ao homem, seu artífice, que de Deus, seu Criador. Embora não seja ausente, é invisível em nosso mundo técnico-científico.
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A provocação de base para esta argumentação neste texto está nas seguintes bibliografias: BOFF, O destino do homem e do mundo: ensaio sobre a vocação humana. Petrópolis: Vozes.2003 e BOFF, Experimentar a Deus hoje. In Experimentar Deus hoje. Petrópolis: Vozes. 1974

[1] ENCARANADA!
[2] Poderemos refletir sobre isso em outros artigos. Ainda, devemos ressaltar aqui que estas palavras não têm preocupação de apresentar-se moralmente.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Discípulos e missionários a serviço das vocações

Estamos em tempo de urgência no que diz respeito ao trabalho vocacional na Igreja. Não tanto por motivos e questões de futuro, mas de sentido: somos todos chamados pela Trindade Santíssima. Isso não é pouco! É algo esplendoroso. Jesus, o missionário do Pai quis e quer contar conosco. Isso aconteceu em toda a História da Salvação desejada e efetuada por Deus, culminante em Jesus de Nazaré, o Cristo. Por isso Se serviu de homens e mulheres para seus porta-vozes no trabalho da libertação do ser humano.
Todos nós acreditamos e somos discípulos de Jesus, e temos que viver como tais, por força do batismo. Discipulado cristão tem fundamento: seguimos a alguém bem determinado, Jesus de Nazaré, vivo, presente, atuante ainda em nossa história, homem da história, situado... Para um serviço de animação vocacional eficaz temos que ter bem claro quem é Jesus. Ainda mais, não basta saber quem é Jesus, muito mais do que isso, temos que nos relacionar com ele com uma intimidade de amizade profunda, sem “ilusões” e muito concretizado. Dizer isso não significa que já não tenhamos uma grande intimidade, mas isso é algo que tem que estar constantemente presente em nossa compreensão religiosa.
Desse modo, uma atenção especial à realidade na qual estamos está em nossa “cartilha de trabalho”. “Eu sou chamado a ser discípulo num lugar”, não importa onde e em qual situação esteja. Daí surge o ser missionário que está estritamente, essencialmente, criteriosamente vinculado ao discipulado.
O trabalho da animação vocacional somente terá êxito quando for, antes de tudo encarado, o SAV, como lugar de partilha e de encontro de pessoas que conscientes de serem vocacionadas ao discipulado missionário se lançam corajosamente nesta grande missão, que na verdade é de toda a Igreja Discípula no mundo.
No relato dos vocacionados da Sagrada Escritura encontramos um sentido exato da obediência a Palavra de Deus a qual todo vocacionado está sujeito. Mas logicamente, cada vocacionado sempre apresenta uma resistência por causa do medo, da dúvida ou mesmo da indisponibilidade diante do chamado. Abraão, Moisés, Jonas, até mesmo Maria (“Senhor, como, não conheço nenhum homem?”), Paulo, etc. No diálogo vocacional entre os dois protagonistas – Deus e o vocacionado – o que impera da parte de Deus será sempre a liberdade com relação a proposta. Deus vai sempre mais insistir, mas nunca obrigar. Deus vai sempre oferecer meios, mas nunca fará no lugar da pessoa aquilo que lhe cabe.
O discipulado é sempre uma resposta a uma proposta que o Senhor dirige ao ser humano. E todo discipulado tem vinculado a si uma missão fundamental. O verbo que sempre aparece com constância é o verbo “sair”. O chamado vocacional implica na saída. Isso quer dizer o seguinte: o chamado de Deus inquieta e des-acomoda, lança pra frente, exige des-instalação e espírito de peregrino, viandante. O anúncio do Evangelho deve ser realizado até os confins da terra, a todas as pessoas sem distinção, ainda hoje.

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MDT

domingo, 13 de junho de 2010

A vocação de Zaqueu

O Evangelho de Lc 19,1-10 traz-nos o relato da vocação-conversão do rico chefe dos publicanos, Zaqueu. Era rico porque defraudava. Mas procurava conhecer quem era Jesus, que sem hesitar se dirigiu ao publicano: "Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa." E continua o texto afirmando que ele "desceu depressa e recebeu-o com alegria."
Ao chamado uma resposta!
Mas, o que desperta a atenção é o fato da multidão estar presente, novamente, no relato de Lucas. Antes deste fato da conversão do publicano, quando da passagem de Jesus por Naim (Lc 7,11-17), a multidão já recebia certo destaque, em dois momentos: primeiro, Jesus estava seguido de uma multidão; e segundo, a viúva também estava acompanhada por uma multidão. Mas o diálogo não leva em consideração a multidão, que aparece apenas quando, após Jesus levantar o jovem filho da viúva, exclama: "Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo."
Este particular ressaltado leva-nos a uma conclusão bem simples. No chamado vocacional não existe multidão. O relacionamento é pessoal: Alguém (a Trindade) chama e o vocacionado responde. A experiência vocacional não é algo da vida que podemos confiar a outros a responsabilidade; a experiência vocacional é muito menos um momento da vida que podemos postergar, deixar para depois... Vocação é compromisso pessoal de engajamento. É momento de arriscar tudo na confiança em Deus que me chama e vai dar força para sair. Esse verbo "sair", tão presente nos relatos vocacionais da Sagrada Escritura (Abraão, Moisés...), hoje desperta medo, porque ele evoca desestabilização, esse verbo incomoda, exige amor e confiança Ao que chama. Mas ao mesmo tempo exige maturidade e consciência do que está para ser realizado.
Deus chama e responsabiliza-se junto com o vocacionado da história a ser construída.
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MDT

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Forma existencial da Páscoa de paixão, morte e ressurreição: Corpus Christi

Jesus não é reconhecido como um Messias sacerdotal, mas profético e real. Também sua morte, que nós os cristãos chamamos justamente "sacrifício", não teve nada dos sacrifícios antigos, ao contrário, foi totalmente o oposto: a execução de uma sentença de morte, por crucificação, a mais infame, sucedida fora dos muros de Jerusalém.
Então, em que sentido Jesus é sacerdote? Disse-nos precisamente a Eucaristia. Podemos voltar a partir dessas simples palavras que descrevem Melquisedeque: "ofereceu pão e vinho" (Gn 14,18). E é isto que Jesus fez na Última Ceia: ofereceu pão e vinho, e neste gesto resumiu totalmente a si mesmo e a sua própria missão. Neste ato, na oração que o precede e nas palavras que o acompanham está todo o sentido do mistério de Cristo, tal e como o expressa a Carta aos Hebreus em uma passagem decisiva, que se faz necessário citar: "Tendo oferecido pelos dias de sua vida mortal - escreve o autor, referindo-se a Jesus - pedidos e súplicas com poderoso clamor e lágrimas pelos quais poderia salvá-lo da morte, foi escutado por sua atitude reverente, e ainda sendo Filho, com o que sofreu e experimentou a obediência; e alcançada a perfeição, converteu-se em causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem, proclamado por Deus Sumo Sacerdote à semelhança de Melquisedeque" (5,8 -10). Neste texto, que claramente alude à agonia espiritual de Getsêmani, a paixão de Cristo se apresenta como uma oração e como uma oferenda. Jesus confronta sua "hora", que o conduz à morte na cruz, imerso em uma profunda oração, que consiste na união da própria vontade com a do Pai. Esta dupla e única vontade é uma vontade de amor. Vivida nesta oração, a trágica prova que Jesus enfrenta é transformada em oferenda, em sacrifício vivo.
Jesus "foi escutado". Em que sentido? No sentido de que Deus Pai o libertou da morte e o ressuscitou. Foi escutado exatamente por seu pleno abandono à vontade do Pai: o desígnio de amor de Deus pôde perfeitamente ser realizado em Jesus que, tendo obedecido até o extremo da morte na cruz, transformou-se em "causa de salvação" para todos aqueles que Lhe obedecem. Transformou-se em Sumo Sacerdote ter tomado Ele mesmo sobre si todo o pecado do mundo, como "Cordeiro de Deus". É o Pai que Lhe confere este sacerdócio no próprio momento em que Jesus atravessa o passo de sua morte e ressurreição. Não é um sacerdócio segundo o ordenamento da lei mosaica (cf. Lv 8 -9), mas "de acordo com a ordem de Melquisedeque", de acordo com uma ordem profética, dependente apenas de sua relação única com Deus.
Jesus foi aperfeiçoado, em grego teleiotheis.
O termo teleiotheis, traduzido exatamente como "fato perfeito", pertence a uma raiz verbal que, na versão grega do Pentateuco, quer dizer, os primeiros cinco livros da Bíblia, sempre usado para indicar a consagração dos antigos sacerdotes. Esta descoberta é muito preciosa, porque nos diz que a paixão foi para Jesus como uma consagração sacerdotal. Ele não era sacerdote de acordo com a Lei, mas chegou a ser de forma existencial em sua Páscoa de paixão, morte e ressurreição: ofereceu-se a si mesmo em compensação e o Pai, exaltando-o acima de toda criatura, o constituiu Mediador universal de salvação.
(Bento XVI)
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Texto completo no sítio http://www.zenit.org/article-25098?l=portuguese

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Cruz e o Girassol

A cruz, como símbolo principal da vida cristã, é nossa referência primeva na certeza de que estamos salvos. O Deus do amor infinito, da gratuidade sem par e sem semelhanças na história da humanidade, o nosso Deus encarnado e vivo em nossa realidade humana, entrega-se incondicionalmente ao cumprimento da vontade do Pai sem restrições quanto sua missão, junto a história dos homens.
Desse modo temos uma certeza: a Trindade voltou sua atenção aos homens. Convive conosco nos chamando a um entrelaçamento de intimidade profunda. É a cruz, sinal dessa atenção, amor e desejo do Pai de seus filhos junto a si e de cada pessoa partilhando a vida como Cristo parte na Eucaristia.
E o girassol?
Essa flor magestosa procura voltar-se sempre para a luz. Como um dos símbolos pascais mais expressivos indica-nos nossa busca. O girassol evoca esse outro âmbito da vocação humana e cristã. Se na Cruz encontramos um símbolo profundo do amor de Deus e de sua atenção a nós humanos, então no girassol encontramos um súmbolo "metafórico" de nossa necessidade da Luz.
Jesus, o Filho de Deus encarnado, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, Homem, é a revelação por excelência da Trindade quando se despoja de sua condição divina para anunciar uma Boa Nova de amor e libertação integral do ser humano (bio-psico-físico-sócio-(cultural)-religioso).
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MDT

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A PALAVRA DE DEUS E A ANIMAÇÃO BÍBLICA DE TODA A PASTORAL

Dias virão em que o povo sentirá fome da Palavra (cf. Am 8,11)

Mensagem da 48ª Assembleia Geral da CNBB:
Na 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, aprofundamos o tema da Palavra de Deus na Igreja. Enquanto aguardamos com muito carinho a Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Bento XVI, orientados pela mensagem do Sínodo, com as ricas contribuições de toda a Igreja sobre este tema, convidamos todas as comunidades a acolher este grande dom e a preparar o ânimo para uma recepção mais viva da Palavra de Deus. Assim, a Igreja no Brasil poderá ser, nesta mudança de época, anunciadora corajosa das riquezas da Palavra em estado permanente de missão em toda a sua ação evangelizadora.
No Prólogo do evangelho de São João, encontramos o anúncio que ilumina a vida do mundo inteiro: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus... e a Palavra se fez carne" (Jo 1, 1.14). A Palavra se torna um de nós e pode ser vista, tem um nome e um rosto: é Jesus Cristo. Depois de percorrer as estradas da Palestina, encontrando todo tipo de pessoas e fazendo o bem, a Palavra feita carne se manifesta de forma mais eminente no Mistério Pascal. É o amor do Pai que, na glorificação do Filho, chega até nós pela força do Espírito.
Do lado aberto de Jesus nasce a Igreja, que, guiada pelo Espírito, começa a colocar por escrito a Palavra revelada, que não se esgota nos textos sagrados, mas continua no rio de vida que é a Tradição. Isso aconteceu, também, no Antigo Testamento quando a experiência da salvação deu origem, já no povo de Israel, aos textos sagrados. A Palavra, portanto, germina na vida da Igreja e é autenticamente interpretada por meio do Magistério do sucessor de Pedro e dos bispos em comunhão com ele. Esta Palavra, que é vida, continua viva nas comunidades cristãs.
Exortamos os discípulos e as discípulas de Jesus do nosso tempo a se deixarem alcançar pela palavra de seu Mestre. Como aos primeiros, lá na Palestina, Ele lhes dirigiu o olhar e a palavra (cf. Mt 4,18-22). Eles, ao ouvirem sua palavra, acolheram sua Pessoa: seguiram-no. Foi um começo. Muitas vezes, depois, tiveram que renovar os motivos para o seguimento. Naquelas situações, a Palavra do Senhor não lhes faltava: escutavam-no. Deixavam-se ensinar por Ele. E os discípulos amadureciam no seguimento e nos seus vínculos pessoais com o Senhor. Esta palavra continua viva na história e chegou até nós, na terra de Santa Cruz.
Louvemos a Deus por tudo o que se fez e se faz em nosso Brasil por meio do trabalho evangelizador com a Bíblia, desde o "movimento bíblico" já antes do Concílio Vaticano II, e com ele, e a partir dele, com a rica "pastoral bíblica". A nossa Igreja no Brasil tornou-se mais atenta em acolher a Revelação do Senhor, mais animada em encontrar-se com a Palavra viva, que é Jesus Cristo, e mais profética e misericordiosa em servir a todos, especialmente aos mais fracos.
Deus suscita em nosso povo uma grande fome e sede da Palavra, uma grande procura e desejo de conhecer, viver e anunciar a mensagem da Sagrada Escritura. Este encantamento pela Palavra é um apelo para que, em nossas dioceses, paróquias e comunidades se ofereça e se facilite o acesso à Bíblia, ao estudo bíblico e a vivência da mensagem revelada.
Em continuidade com tudo que já se realiza, somos convidados a dar um novo passo. Trata-se de compreender que a Palavra de Deus é a alma de toda a ação evangelizadora da Igreja. Propõe-se uma verdadeira "Animação Bíblica da Pastoral". Assim a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura suscita, forma e acompanha a vocação e a missão de cada discípulo missionário de Jesus Cristo e orienta as ações organizadas da Igreja. Dessa forma, além de ser "alma da teologia" (DV 24), a Palavra de Deus torna-se também a "alma da ação evangelizadora da Igreja" (DP 372; DAp 248).
Quando falamos da "Animação Bíblica da Pastoral", propomos conhecer e assimilar mais a Revelação de Deus, em ter, mediante sua Palavra, um encontro pessoal e comunitário com o Senhor e sermos corajosos missionários do Reino de Deus. Por isso a "Animação Bíblica da Pastoral" deve tornar-se um verdadeiro aprendizado, por meio de um caminho de conhecimento e interpretação da Sagrada Escritura, caminho de comunhão e oração com o Senhor e caminho de evangelização e anúncio da Palavra de Deus, esperança para o nosso mundo (cf. DAp 248).
É hora, pois, de uma formação bíblica mais intensa, profunda, sistemática e corajosa; de um contínuo e fascinante contato com a Palavra de Deus, que é Jesus Cristo; de uma forte e vibrante ação evangelizadora a partir da Palavra de Deus.
Com a Bíblia na mão, a Palavra de Deus no coração e com os pés na missão, somos convocados à prática da Leitura Orante. Feita com todo empenho em nível pessoal e comunitário, ela vai nos educar na fé proporcionando uma catequese bíblica, que forma discípulos apaixonados por Jesus Cristo. Ela nos leva a celebrar a esperança na liturgia, que dispõe para plena comunhão com Deus, que se realiza na Eucaristia. Ela, enfim, fortalece-nos na missão de anunciar a Palavra a todos os povos por meio de uma caridade criativa. Quando pessoas e comunidades são transformadas pela Palavra, multiplicam-se na Igreja e na sociedade frutos de amor, solidariedade, justiça e paz.
Convidamos todas as Igrejas particulares, com suas pastorais, movimentos, organismos, associações, novas comunidades, círculos bíblicos, grupos de família e outras expressões comunitárias, a fazer um verdadeiro mutirão de Leitura Orante em seus diversos métodos, entre os quais se destaca a Lectio Divina.
Deixemo-nos cativar pela Palavra. Ela faz arder nossos corações, abrir nossas mãos e torna velozes os nossos pés na missão. Maria, modelo perfeito de acolhida e de seguimento da Palavra nos acompanhe na escuta orante e na dedicação generosa ao anúncio da Palavra a partir do testemunho da nossa vida.
Brasília, 12 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"Fé na vida"

A religião cristã não é apenas uma doutrina, mas é em primeiro lugar um acontecimento, tem afirmado constantemente os documentos eclesiais. O cristianismo é a manifestação de uma ação divina na história humana e através da história humana. Desse modo, podemos constatar e conceber nossa fé como um acontecimento, antes de tudo, existencial, ou seja, a revelação de Deus que acontece em nossa história fala da nossa vida concreta com tudo o que forma e faz parte do humano. É assim que, a realidade divina se faz sensível em realidades humanas e transforma nossa história em história de salvação. Não querendo fazer um simples jogo de palavras, contudo, a salvação que Deus oferece ao homem acontece na história e de modo algum fora dela, num outro mundo desejável.
O Reino de Deus é anunciado aos homens para acontecer já e agora em nossa existência concreta.
Quando dizemos Reino de Deus não podemos nos remeter simplesmente aos "nosso céus desejáveis", mas o anúncio da Boa Nova de Jesus é uma revelação para o nosso já histórico, para o nosso tempo no nosso tempo. Daí que denominamos Kairós como plenificação do Cronos, nosso tempo marcado e vivido. Se se prefigura o Reino vindouro, é porque não podemos deixar para amanhã o que é vivencial no já.
O ato redentor de Deus, sempre atual, se manifesta no tempo, através de acontecimentos terrestres e ações humanas de pessoas vivas. Nesse plano, fatos e incidentes, homens e sociedades se tornam decisivos para a salvação do todo o gênero humano. O cristianismo é a religião do encontro histórico e sacramental com Deus (B. Forte). O centro de toda essa história de salvação é Jesus: em Jesus temos a vida pessoal de Deus e a manifestação da Trindade. Nesse interim, o céu que queremos apara o futuro se antecipa.
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MDT
Argumento de base desta reflexão está em E. Schillebeeckx. Maria, Mãe do Redentor. Vozes. 1968

quinta-feira, 18 de março de 2010

Chamado - uma escuta silenciosa

Em nossos dias temos muita dificuldade para entender o que significa chamado, principalmente quando nos referimos a uma vida agitada das grandes cidades. Neste ambiente, muitas coisas dificultam o silêncio interior do ser humano, a saber, os ruídos sonoros, a poluição visual ou outras coisas que nos dispersam no dia-a-dia.

Neste pequeno ensaio sobre o chamado, quero focar justamente o sentido desta palavra quando a usamos no português, já que o termo vocação, do latim Vocare (chamar) hoje se esvaziou, por ser usado para tantas coisas. Por exemplo, faz-se grande confusão entre profissão e vocação. Muitas pessoas confundem habilidade técnica com vocação-para. Por isso, o verbo chamar deseja expressar uma escuta silenciosa de alguém que emite um bom som, sendo que nesta escuta silenciosa, nasce um desejo interior de livremente responder, e esta resposta independe das habilidades técnicas, pois o chamado que Deus nos faz já conta de antemão com o todo que nós somos.

Assim sendo, podemos compreender o que a experiência bíblica quer nos ensinar quando usa o termo chamado/vocação. Nesta experiência existe um emissor e um receptor. O emissor diz aquilo que deseja transmitir, o receptor escuta atentamente. Outro detalhe: o receptor é chamado pelo seu nome, isto é, na sua particularidade, naquilo que ele é.
Para explicitar isto que falamos tomemos por base o texto de Jr 1, 4-8:

Recebi a palavra de Javé que me dizia: “antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações”. Mas eu respondi: “Ah, Senhor Javé, eu não sei falar, porque sou jovem”. Javé, porém, me disse: “não diga ‘sou jovem’, porque você irá para aqueles a quem eu o mandar e anunciará aquilo que eu lhe ordenar. Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo – oráculo de Javé.

O relato nos diz que o Senhor mostra seu objetivo a Jeremias e nas suas palavras o Senhor expressa que o conhecia já bem antes do ventre de sua mãe. Em seguida diz que o chamou para ser profeta das nações.

Ninguém é chamado do nada e para nada. O emissor deixa claro o que deseja transmitir e o receptor decide se deve executar ou não, dentro da sua liberdade. Este chamado independe de habilidades e competências que foram adquiridas pelos anos, pois o Senhor que chama conta de antemão com tudo aquilo que somos. Por isso, um instante de silêncio diário nunca é demais para meditar no chamado que Deus nos faz constantemente em nossa vida.
Desta forma, procuramos nas nossas comunidades intensificar cada vez mais os nossos encontros vocacionais, para que melhor possamos auscultar qual o chamado que Deus nos faz constantemente neste mundo tão agitado e disperso.
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Frei Arnaldo Aragão Bastos OFMConv

sábado, 13 de fevereiro de 2010

À intuição de São Francisco

Uma questão, que na minha reles opinião, precisa ser discutida é a relação entre o nome de franciscanos ou frades menores: o que somos? que valores cultivamos? para onde queremos ir? qual nossa identidade? o que muda isso em nossa vida? como nos apresentamos?
Penso eu que, se apenas nos denominamos de franciscanos, no fundo da expressão estamos afirmando que seguimos uma idéia elaborada por um homem muito santo chamado Francisco. Isso, logicamente não causa problema algum. Mas o que dá sentido a nossa vocação não é tanto o homem Francisco, mas sua intuição que marcou a história. E segundo a intuição de Francisco de Assis, para ele e para toda "sua" Ordem, é que nos chamássemos frades menores. Seguir uma intuição exige que nos identifiquemos não com a pessoa, mas com o próprio Autor da intuição. Isso dá sentido à vida. À intuição não se planeja tê-la, mas vem sem que se espere, acontece, não por um acaso, entretanto, exige trabalho de busca, espera-se, pacientemente, sem saber ao certo se virá.
Essa afirmação não quer eximir da identificação que se faz com a pessoa, que antropologicamente falando, é muito necessário na formação existencial do ser humano, mas o salto para uma realidade mais substanciosa precisa ser feito, pois assim encontramos consistência para a vocação (traduza "vocação" para "vida", como um todo-pleno)
Ser irmão e ser menor marca nossa existência no mundo, na Igreja, na sociedade, na vida de cada pessoa e na vida pessoal do frade seguidor de Jesus, o Cristo. Essa é nossa identidade, nossa presença, nossa significatividade (frei Agostinho Gardin).
Partir desse ponto de vista muda nossa vida. Como afirmou o mestre L. Boff (pelo menos foi dele que vi esta expressão), "todo ponto de vista é a vista de um ponto". Tudo bem, quando nos apresentamos como franciscanos algo muda até na expressão facial das pessoas (não tanto pela pessoa do franciscano, mas muito mais por São Francisco), contudo, devemos nos resguardar do perigo da vaidade a que São Francisco mesmo alertou: do que nos adianta nos vangloriar por relatar da vida de outros santos enquanto não nos importamos de fazer o próprio caminho de radicalidade? Para mim, a expressão franciscano evoca essa realidade... Acima de tudo somos irmãos menores e assim devemos viver, ser e fazer no mundo!
Sugestão: porque não nos apresentarmos daqui para frente como frades menores franciscanos (capuchinhos, observantes ou conventuais)?
Ao leitor peço perdão pela simploriedade da argumentação, das ideias e da problemática proposta. Mas a vida é feita dessas coisas também!
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MDT

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Quando tudo passa

Enquanto existir força vivente
Lutar sem desistir

Se for coerente
Não se contentar em apenas assistir

O protagonismo na história
Ficar na memória

Eternizar
Amorizar

Quanta coisa difícil
Vamos com simplicidade olhando
Amando
Porque sem sentir?
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MDT

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

BBB 10 em versos de cordel‏: "Big Brother Brasil, um programa imbecil"

Autor: Antônio Barreto


Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.

Cuidado, Pedro Bial,
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal,
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dá muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

(...)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Depoimento de um soldado recentemente chegado ao Haiti.

Recebi por e-mail este comunicado de meu amigo que no último dia 29 de janeiro embarcou para o Haiti.

"Porto Príncipe, 31 de janeiro de 2010.

Caro irmão em Cristo, Paz e Bem. (Pax et Bonum)

Comunico-te a minha chegada no Haiti. Jamais os filmes Americanos poderão ou conseguirão retratar a megalomaníaca estrutura bélica que aqui se encontra. São centenas de viaturas militares, dezenas de aviões, dezenas de helicópteros, que não param um minuto, um porta aviões, navios militiares de grande porte, dezenas de Hospitais de Campanha espalhados por toda parte, milhares de soldados, quilometros e quilometros de instalações improvisadas com acampamentos para o efetivo militar. Existe mais de 20 países apoiando os trabalhos. Os Americanos se destacam! Tenho que adimitir. E os brasileiros são os mais queridos e amados por todos. Toda essa estrutura está no aeroporto do Haiti. Existe também quilometros e quilometros de suprimento para a população haitiana. A ONU coordena todos os trabalhos com o Exército Brasileiro. Os haitianos amam os soldados brasileiros, amam o Brasil. Demostram carinho, nos abanam e nos acenam com um: Ok, Brésil! Ame au Brésil! Aqui faz muito calor, e o Sol é escaldante. E a diferença de fuso horário são de três horas a menos. O céu é muito claro e azul, e tudo é pintado de cor branca, cor da ONU. Existem britas brancas no chão. Assim chega a machucar a vista pela claridade, o óculos escuro é essencial. Nossas instalações, na Base de Engenharia, são as melhores que existem. Estamos em containers. Peço que rezem por mim e por toda essa população tão carente de tudo! E como padre que serás, peço que fales sempre bem das Forças Armadas, do Exército Brasileiro, porque não tem preço que pague o que estamos vendo e fazendo por esses nossos irmãos em Cristo. Fico muito emocionado com tudo que vejo. Não dá pra conter uma lágrima e outra no meio de tanta calamidade, sofrimento, dor e angústia.

No Amor do Teu Amor. (Amor Amoris tuo)

Rezem, rezem e rezem. (Ora et Ora et Ora)"

Peterson Colling.