terça-feira, 19 de abril de 2011

Deus e o absurdo da Cruz

Deus deve ser buscado no contrário. Lá onde não parece haver Deus, lá onde parece que ele se retirou: lá está maximamente Deus. Essa é a lógica da cruz que é escândalo para a razão e deve ser assim mantida, porque só assim temos um acesso a Deus que de outra maneira jamais teríamos. A razão busca as causas da dor, as razões do mal. A CRUZ não busca causa nenhuma: aí mesmo na dor Deus está maximamente. Onde se via ausência de Deus, na lógica da cruz, está a plena revelação de Deus. A cruz deve se manter como cruz, como uma treva diante da luz da razão e da sabedoria deste mundo.

A ressurreição não é obra da luz da razão, mas das trevas da morte. O ressuscitado é o abandonado, o rejeitado. Isso vem mostrar que dentro do abandono e da rejeição há uma vida diferente e plenamente divina: é a RESSURREIÇÃO.

Então, se a cruz é absurdo, mais absurdo ainda é Deus tê-la assumido. Embora absurda ela não constitui limite para Deus.

A essência do amor se realiza em poder estar no outro enquanto outro, no totalmente outro. O totalmente outro de mim é o inimigo. Amar o inimigo (cruz), poder estar nele, assumi-lo, isso é obra do amor. A cruz assumida realiza totalmente o homem, porque lhe confere a chance de amar mais sublime. A cruz não é amor, nem fruto do amor. É o lugar onde se mostra o que pode o amor. Então liberta.

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Reflexão do filósofo e teólogo Leonardo Boff.

Da obra Paixão de Cristo Paixão do Mundo

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