sexta-feira, 4 de junho de 2010

Forma existencial da Páscoa de paixão, morte e ressurreição: Corpus Christi

Jesus não é reconhecido como um Messias sacerdotal, mas profético e real. Também sua morte, que nós os cristãos chamamos justamente "sacrifício", não teve nada dos sacrifícios antigos, ao contrário, foi totalmente o oposto: a execução de uma sentença de morte, por crucificação, a mais infame, sucedida fora dos muros de Jerusalém.
Então, em que sentido Jesus é sacerdote? Disse-nos precisamente a Eucaristia. Podemos voltar a partir dessas simples palavras que descrevem Melquisedeque: "ofereceu pão e vinho" (Gn 14,18). E é isto que Jesus fez na Última Ceia: ofereceu pão e vinho, e neste gesto resumiu totalmente a si mesmo e a sua própria missão. Neste ato, na oração que o precede e nas palavras que o acompanham está todo o sentido do mistério de Cristo, tal e como o expressa a Carta aos Hebreus em uma passagem decisiva, que se faz necessário citar: "Tendo oferecido pelos dias de sua vida mortal - escreve o autor, referindo-se a Jesus - pedidos e súplicas com poderoso clamor e lágrimas pelos quais poderia salvá-lo da morte, foi escutado por sua atitude reverente, e ainda sendo Filho, com o que sofreu e experimentou a obediência; e alcançada a perfeição, converteu-se em causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem, proclamado por Deus Sumo Sacerdote à semelhança de Melquisedeque" (5,8 -10). Neste texto, que claramente alude à agonia espiritual de Getsêmani, a paixão de Cristo se apresenta como uma oração e como uma oferenda. Jesus confronta sua "hora", que o conduz à morte na cruz, imerso em uma profunda oração, que consiste na união da própria vontade com a do Pai. Esta dupla e única vontade é uma vontade de amor. Vivida nesta oração, a trágica prova que Jesus enfrenta é transformada em oferenda, em sacrifício vivo.
Jesus "foi escutado". Em que sentido? No sentido de que Deus Pai o libertou da morte e o ressuscitou. Foi escutado exatamente por seu pleno abandono à vontade do Pai: o desígnio de amor de Deus pôde perfeitamente ser realizado em Jesus que, tendo obedecido até o extremo da morte na cruz, transformou-se em "causa de salvação" para todos aqueles que Lhe obedecem. Transformou-se em Sumo Sacerdote ter tomado Ele mesmo sobre si todo o pecado do mundo, como "Cordeiro de Deus". É o Pai que Lhe confere este sacerdócio no próprio momento em que Jesus atravessa o passo de sua morte e ressurreição. Não é um sacerdócio segundo o ordenamento da lei mosaica (cf. Lv 8 -9), mas "de acordo com a ordem de Melquisedeque", de acordo com uma ordem profética, dependente apenas de sua relação única com Deus.
Jesus foi aperfeiçoado, em grego teleiotheis.
O termo teleiotheis, traduzido exatamente como "fato perfeito", pertence a uma raiz verbal que, na versão grega do Pentateuco, quer dizer, os primeiros cinco livros da Bíblia, sempre usado para indicar a consagração dos antigos sacerdotes. Esta descoberta é muito preciosa, porque nos diz que a paixão foi para Jesus como uma consagração sacerdotal. Ele não era sacerdote de acordo com a Lei, mas chegou a ser de forma existencial em sua Páscoa de paixão, morte e ressurreição: ofereceu-se a si mesmo em compensação e o Pai, exaltando-o acima de toda criatura, o constituiu Mediador universal de salvação.
(Bento XVI)
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Texto completo no sítio http://www.zenit.org/article-25098?l=portuguese

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