Entretanto, este conjunto de livros não possuem sentido porque são conjunto de livros (Bíblia) ou ainda porque são sagrados simplesmente. O sentido mais profundo e sua finalidade última está contida na sua concepção de Palavra de Deus. Outro não é e não pode ser nosso relacionamento com este conjunto de livros sagrados.
Não é difícil encontrarmos motivações precipitadas de relacionamento com a Palavra de Deus simplesmente como um livro de receitas, e estas receitas morais de como se deve agradar a Deus, ou como as pessoas devem se comportar, ou qualquer outra aberração do gênero. Diferente de outras religiões (isso não é crítica comparativa), a religião cristã não é religião do Livro, ou seja, com princípios religiosos advindos das letras de um livro, mas nós nos constituímos a religião da experiência de Deus.

Isso significa que nosso sentido de vida não está no simples decorar de versículos e capítulos dos livros sagrados, mas nosso anseio está em saber quem é Deus, onde ele está. Este relacionamento Jesus nos ensinou a cultivar, corrigindo a concepção de Deus daquele seu tempo: esse nome que não podemos (os judeus) sequer pronunciar é o Abbá. Ou seja, afirmar essa expressão quer dizer um profundíssimo estado de relacionamento íntimo. Essa expressão, Abbá, só podia se dizer no interior das casas, no seio do meio familiar.
Para nós, a hermenêutica da expressão paulina “a letra mata o espírito vivifica” (2 Cor 3, 6) vai justamente nesta direção, não somente da espiritualidade da passagem, mas da penetração vivencial que cultivamos com a Palavra de Deus. Estes escritos existem porque outras pessoas de outros tempos em outros contextos também cultivaram um tipo de relacionamento com Deus que os induziu a tal feito escriturário. Estas letras permanecerão pelos tempos afins enquanto existir um ser humano vivo na face da Terra, porque estas palavras atingiram-nos na nossa essência profunda, quero dizer, atingiram-nos porque são escritos que falam para seres humanos que é o mesmo desde o primeiro até o último ser existente, independente de sua cultura ou nacionalidade. Melhor dizendo, qualquer humano se angustia, se alegra, sofre, ri, chora, tem anseios e desejos e sonhos, tem medo e se arrisca, deseja conhecer o mais profundo da realidade... É nesse “entreveio” que a Palavra de Deus se insere.
MDT
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