sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A vocação franciscana - parte III: Origem do nome "Frades Menores" A minoridade Franciscana (Continuação)

É certo que em Assis, como no resto da Itália, existiam duas classes sociais, os menores ou classe urbana, a qual ele pertencia, e os maiores ou nobres, a qual ele aspirava pertencer. Mas nada, nem em seus escritos nem nas demais fontes, dá a entender que fosse assim; antes disso, escolheu o caminho da minoridade evangélica, como se quisesse dar uma lição não somente nos maiores e poderosos, mas também nos que, chamados menores, aspiravam, pela riqueza e poder, colocar-se a altura da classe feudal dominante. Disse frei Tomás de Celano que Francisco elegeu o nome de Menores ao rever a Regra que ele mesmo havia redigido, onde se dizia: "Os irmãos sejam menores". Foi então que exclamou: "Quero que esta fraternidade se chame Ordem dos Frades Menores". Com efeito, em vários capítulos da Regra de 1221, que parecem remontar-se ao texto primitivo, aparece o termo menores, sempre com uma indiscutível raiz evangélica. No capítulo 5º se lê: " Nenhum irmão tenha poder ou domínio, e menos entre eles; pois, como diz o Senhor no evangelho; 'Os comandantes dos povos os dominam e os que são maiores exercem poder sobre eles'. Não será assim entre os irmãos. Todo aquele que quer ser maior entre eles seja seu ministro e servo; e o que quer ser o maior entre eles, que seja o menor. E nenhum irmão cause dano ou fale mal de outro, mas, pela caridade do espírito, sirvam e obedeçam uns aos outros de boa vontade. E esta é a verdadeira e santa obediência de Nosso Senhor Jesus Cristo".
Nos capítulos 6º e 7º está escrito: "A ninguém se chame de prior, mas todos, sem exceção se chamem de frades menores. E lavem os pés uns dos outros... Os irmãos, onde quer que se encontrem, servindo ou trabalhando em casas de outros, não sejam secretários nem estejam à frente deles nem aceitem nenhum ofício que provoque escândalo ou cause dano a sua alma; mas sejam menores e sejam submissos a todos os que vivem na mesma casa".
Também se conta que Francisco incluiu o nome de menores na regra por revelação divina, porque quis fundamentar-se a si mesmo e a sua família sobre a rocha firme da humildade e pobreza do Filho de Deus. Um testemunho pouco conhecido de frei Gil o explica deste modo: "Dizer 'frade menor' é como dizer 'estar aos pés de todos'. Quanto maior seja a humilhação, maior será a exaltação. Por isso São Francisco dizia que o Senhor lhe havia revelado que deviam chamar-se 'Frades Menores'". A essa revelação se referia seguramente quando dizia a seus íntimos: " A Ordem dos Frades Menores é um pequeno rebanho que o Filho de Deus pediu ao Pai nestes últimos tempos, dizendo: 'Pai, quisera que me desses um povo novo e humilde que se distinga, por sua humildade e pobreza, de todos os que o tem precedido, e se conforme com ter somente a mim'. E o Pai lhe concedeu. Por isso quis o Senhor que se chamem Menores, pois eles são esse povo que o Filho de Deus pediu ao Pai e do qual diz o evangelho: 'Não temais, meu pequeno rebanho, pois o Pai tem se comprometido em dar-lhes o reino'. E também: 'O que fizestes a um destes meus irmãos menores, a mim mesmo fizestes'.
Quando o Senhor falou assim, se referia, sem dúvida, a todos os pobres de espírito, mas, principalmente, predisse o nascimento em sua Igreja da Ordem dos Frades Menores". Em outra ocasião dirá: "Deus quis que se chamassem Frades Menores porque devem mostrar-se inferiores e mais humildes e pobres, pela humildade de coração, nas palavras, em obras e no hábito; e nunca pretendam ser maiores na Igreja, mas peçam e permaneçam sempre na maior e mais profunda humildade".
Minoridade, portanto, como sinônimo de humildade, em seu mais pleno sentido. Assim o reconhece, por exemplo, Tomás de Celano quando escreve: "Certamente, eram frades menores aqueles que, submissos a todos, buscavam sempre o último lugar e tratavam de trabalhar nos ofícios que tinham alguma aparência de desonra, a fim de que, fundados na verdadeira humildade, merecessem ser edificados perfeitamente no edifício espiritual de todas as virtudes".
São Boaventura é do mesmo parecer: "Francisco, exemplo de humildade, quis que os irmãos se chamassem menores, e os superiores de sua Ordem, ministros (servos), para usar as mesmas palavras do evangelho, cuja observância havia prometido, para que seus discípulos se dessem conta de que tinham vindo à escola de Cristo humilde para aprender a humildade". E o bispo Jacques de Vitry, que conheceu pessoalmente a Francisco e seus companheiros, em fevereiro de 1220, em vida do santo, escreveu: "Esta é a Ordem dos verdadeiros pobres do crucificado, que é também Ordem de Pregadores, os chamados Frades Menores. Por certo, menores e mais humildes que todos os religiosos deste tempo, no hábito, na nudez e no desprezo do mundo".
Por último, como dado de curiosidade, Ângelo Clareno assegura que Francisco não quis que sua família religiosa se chamasse Ordem, mas "Vida" dos Menores. Ignoramos de onde tirou esta notícia, mas o certo é que nas versões conhecidas da Regra, e em todos os seus escritos, nunca aparece a palavra Ordem, mas Religião, Fraternidade ou Vida, como quando diz: "Esta é a vida do Evangelho", "Esta é a regra e vida dos Frades Menores", "Se alguém quiser abraçar esta vida"...
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