quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A complexidade da formação literária da Bíblia: parte 1

Tentativa de resposta às questões feitas na postagem anônima do dia 1 de setembro de 2009

Qual sua opinião sobre a exatidão e veracidade das escrituras, podem elas terem sido adaptadas para algum tipo de convencionalismo, pq textos selecionados? O povo deve permanecer na ignorância por vontade do homem?

“Diversamente do islamismo, o cristianismo não constitui religião do livro. Para o surgimento de uma coleção de escritos santos, tidos como inspirados e canônicos contribuíram antes apenas razões sugeridas pelo seu processo e sua situação: além do impulso interno para automanifestar-se socialmente (paralelamente com a hierarquia e constituição de Igreja), a crescente distância concernente aos fundadores, a atitude missionária, o modelo anterior dos escritos do Antigo Testamento e, não em último lugar, a necessidade apologética. Uma vez que já bem cedo adveio o fenômeno de escritos paralelos, concorrentes e imitativos, já no decurso do processo de surgimento propô-se o problema da delimitação (cânon) e apreciação de seu valor, como também de sua exploração metódica, de sua interpretação teológica e, não em último lugar, de sua classificação literária.”[1]
Os textos são selecionados não para obedecer a uma ideologia constituída, mas exatamente porque obtiveram aceitação na Igreja. Quando se diz Igreja quer se afirmar a comunhão popular de todos os membros. O que aconteceu posteriormente foi uma canonização dos livros por parte da “hierarquia” e também exegetas competentes, ou seja, foram adotados como livros inspirados por Deus. Afirma o mesmo dicionário de teologia supracitado: “Como texto, a Escritura, como toda expressão literária, requer, durante o seu surgimento (2 Pd 3,16), recepção inicial. Contudo, distingue-se ela do caso normal pelo fato de que o seu leitor primário não é o destinatário individual, mas a Igreja. Somente por sua “leitura” é que a Escritura ganha sua plena realidade atual. Somente assim é que se pode entender que a Igreja decide não só com autoridade exterior, mas também por competência interna, sobre a abrangência, qualidade e dignidade da Escritura, mas sobretudo sobre o seu sentido.”[2]
MDT
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[1] EICHER, Peter (org.). Dicionário de conceitos fundamentais de teologia. São Paulo: Paulus. 1993. p. 235
[2] Id. Ibid., p. 236

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