"Hoje, para nós, essa mesma preocupação humana de fidelidade, de compromisso com o passado e com a vida, essa mesma descoberta progressiva da missão histórica, essa mesma vontade de construir um mundo mais feliz e mais humano, geralmente nascem não da análise da história bíblica, mas da análise da nossa história que carregamos conosco na nossa memória; nascem da nossa vida e do nosso presente."*
É de se admirar sempre quando da concreticidade da vida humana. Uma referência que nunca deveria ser deixada de lado é a memória histórica de um povo ou de uma pessoa. A isso costumamos denominar de conciência histórica. O engajamento pessoal na história torna mais real a vida na terra, pois concretiza toda uma construção não só mental de uma vivência, mas acima de tudo, maximiza nossa experiência existencial. Ou seja, a não preocupação com a concretude histórica causa na vivência pessoal uma apatia transformada ao mesmo tempo numa experiência discriminatória das atitudes sociais. Explico-me melhor: os atores sociais destes nossos tempos não cultivam ideais históricos, i. é., nas ações sociais não há preocupação com construção de atos duradouros e de cultivo das tradições. Tradições, aqui, não entendidas como tradicionalismo, mas como continuidades históricas capazes de transformações. Todos somos detentores de uma missão histórica.
A fidelidade, seja no nível moral ou de modo mais abrangente, sempre evoca algum vínculo acima de tudo de progressividade. A consciência de um engajamento histórico é sempre efeitual. Ninguém que viveu, vive ou viverá é desprovido desta noção peculiar somente ao ser humano. Todas as situações são evocadoras deste ponto de vista da vida humana. A citação colocada acima evoca esta vertente de pensamento que defende a construção da história bíblica a partir da concretude histórica de um povo, pessoa, comunidade. Nada do que é humano pode ser estranho a experiência religiosa que fazemos na vida.
Tudo é fruto do acaso! Será que podemos fazer este tipo de afirmação? Por que não? Paremos e pensemos um pouco: nossa história não está escrita num livro antes mesmo de nascermos. Penso que isso é uma noção mais do que básica, é vital. Ainda: dizemos que nosso Deus nos oferece a liberdade. Isso é na vedade mais do que tranquilo. Então nada do que acontece acontece por um desígnio pré-estabelecido, mas acontece por acontecer. Aqui eu quero retomar o pensamento exposto acima. A consciência histórica possiblita a todos nós desejar a construção de uma realidade que seja de alguma forma favorável a total disponibilidade vivencial. Tudo na história dos homens depende de nossa ação, que não pode deixar de ser histórica e nunca deixará de ser porque estamos engajados nele e fadados às suas peripécias, aliás, nossa peripécias.
Por isso falamos tanto da volta às fontes. Voltar às fontes é justamente esse modo de engajar-se na história humana e agradecê-la, pois de nada serviria nossa volta às fontes se não fosse primeiramente para agradecer. Depois sim, escarafunchar nas fontes sinalizadores para nossa vivência atual. Na VR como um todo difunde-se há anos essa nessa necessidade da volta às fontes, não só dos fundadores das congregações e ordens religiosas, mas às fontes de nossa fé cristã.
FRFC
*MESTERS, Carlos. Por trás das palavras. Petrópoles: Vozes. 1974, p. 129
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