terça-feira, 11 de agosto de 2009

A claridade que faz melhor

Celebramos hoje o dia da querida mãe Santa Clara. Nascida em Assis, por volta de 1194, essa mulher ainda é para nós luz e esperança. Essa grande personagem da história humana se auto-denominava plantinha do pai Francisco, sabendo que em seu coração guardava também a herança advinda da vida do pobre de Assis.
Assim que entrou para o grupo dos Penitentes se dirigiu ao abscôndito do silêncio na oração, no cultivo da altíssima pobreza, para no encontro pessoal e íntimo com o esposo Jesus, no seio da Igreja, gritar ao mundo a existência de Deus. Muitas foram as que a seguira na mesma vida de reclusão, como sua irmã Inês e um tempo depois a outra irmã Beatriz e a mãe Hortolona, esta “que devia dar a luz a planta frutífera no jardim da Igreja, também era rica de não poucos frutos” (LegCl 1, 9).

As então chamadas Damas Pobres, atualmente Clarissas, ainda hoje vigorosas no mesmo empenho de Clara, são sinais do caminho certo para Deus em sua forma de vida simples e alegre. No olhar e nos gestos demonstram o que é importante na vida e que uma só coisa é necessária.
Como expõe com espanto o frei José Carlos Correa Pedroso ofm cap, é muito interessante a recomendação de si mesmo que o Cardeal Hugolino, nos seus quase 80 anos, faz numa carta, em 1220, dirigida à jovem Clara de aproximadamente 26 anos: “À caríssima irmã em Cristo e mãe de sua salvação, dona Clara, serva de Cristo, Hugolino, ostiense, indigno e pecador, recomenda-se em tudo o que é e pode ser. ... Entrego-lhe minha alma e lhe recomendo meu espírito, para que, como Jesus entregou o espírito a seu Pai na Cruz, você também responda por mim no dia do juízo, se não tiver sido solícita e atenta por minha salvação. Estou certo de que conseguirá do sumo Juiz tudo que pedir com insistência de tanta devoção e abundância de lágrimas.”[1] Nesta carta podemos constatar para nós que a experiência de Deus não encontra barreiras nem de idade, condição social, cultura, ou qualquer outro tipo de coisa. Deus se oferece gratuitamente a todos. A história de Deus se faz em nossa história de vida também.
Muito se poderia dizer da espiritualidade de Clara, mas é admirável em seus escritos seu profundo atilamento espiritual, especialmente ao se referir a seu esposo íntimo. Vejamos, “a modo de conclusão”, esta passagem da Quarta Carta a Santa Inês de Praga: “... você desposou de modo maravilhoso o Cordeiro imaculado que tira o pecado do mundo, deixando todas as vaidades desta terra. Feliz, decerto, é você, que pode participar desse banquete sagrado para unir-se com todas as fibras do coração àquele cuja beleza todos os batalhões bem-aventurados dos céus admiram sem cessar, cuja afeição apaixona, cuja contemplação restaura, cuja bondade nos sacia, cuja suavidade preenche, cuja lembrança ilumina suavemente, cujo perfume dará vida aos mortos, cuja visão gloriosa tornará felizes todos os cidadãos da celeste Jerusalém, pois é o esplendor da glória eterna, o brilho da luz perpétua e o espelho sem mancha.”[2]
MDT
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[1] PEDROSO, frei José Carlos Correa. Fontes Clarianas. Petrópolis: Cefepal. 1994. p 9. 3ª ed.
[2] Id ibidem p. 211
Imagem de Santa Clara: http://cantodapaz.com.br/

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