quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Taizé, o escândalo da unidade

A reportagem é de Alberto Melloni, publicada no jornal Corriere della Sera, 03-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Quem sabe quantos são aqueles que, quando jovens, tomaram o trem rumo ao noroeste, fizeram a baldeação em Chambesy e Macon, com improváveis coincidências noturnas, o frio mesmo no verão, o ônibus para Cluny. E dali subiram aquela pequena colina da Borgonha da qual desceriam diferentes. Entre eles – centenas de milhares – se reconhecem na hora: porque pronunciam corretamente o nome de Taizé (ou "Tezé"). Na colina, vive há quase 60 anos uma comunidade monástica ecumênica, formada por jovens de diversas Igrejas que seguiram o sulco espiritual de luta e de contemplação de uma personagem de gigantesca delicadeza: Roger Schutz.
Suíço, pastor calvinista, frère Roger é um personagem chave da história cristã do século XIX. Assassinado por uma pobre moça com distúrbios psíquicos durante a oração do dia 16 de agosto de 2005, o prior de Taizé foi embora deixando atrás de si, caso raro na vida monástica, uma comunidade muito unida em torno à pobreza e à efetiva fraternidade: mas a sua experiência continua ardendo como um desafio para os de fora, naqueles ambientes que não digeriram a sua intuição de fundo – isto é, de que a vida cristã pode e deve antecipar o "ainda não" daquilo que vive.
Schutz é um daqueles cristãos que, no século passado, sentiu como um grito em sua própria carne a necessidade de superar o maior escândalo de sempre: a divisão entre os cristãos, estigma da divisão do mundo e dos corações ao mesmo tempo. Hoje, corre-se o risco de considerá-lo como um problema superado. Para frère Roger, a divisão das Igrejas foi escandalosa: e o seu modo de curar isso foi com a intuição de retomar a unidade aqui e agora, toda e logo, dentro de uma comunidade pequeníssima e monasticamente estável; criar em uma colina qualquer da Borgonha a profecia daquilo que irá ocorrer não porque alguém saberá produzi-lo, mas porque Cristo em pessoa o fará, reunindo os seus e mudando em desejo as indiferenças e o idioma diplomático teológico.Quando, em 1940-1949, uma comunidade assim concebida deu os primeiros passos de sua pré-história, o elemento da antecipação da unidade já estava presente. E tornou-se chave desde 1949, ano no qual os primeiros freis pronunciam os seus irrevogáveis votos monásticos, e Roger se torna formalmente o prior desse grupinho de protestantes que redescobrem o monaquismo em uma inocência restaurada. Esse ardor de unidade leva Roger e os "frères" a buscar muito rapidamente um contato com a Igreja católica e com a Igreja ortodoxa. E, depois do Concílio, Taizé – que havia sido, nos anos 40, refúgio para os judeus em fuga, depois lugar de acolhida de crianças órfãs, apoio para os alemães prisioneiros do pós-guerra – se torna o lugar onde os jovens de toda a Europa aprendem uma espiritualidade essencial, que mantém em equilíbrio uma abertura às tragédias do mundo e um ecumenismo vivido face a face, um diálogo direto e um clima de oração, uma vida visivelmente pobre mesmo que elegante (às 5h, o chá, como nas boas famílias, mas em xícaras de plástico que deixam um sabor de desinfetante...), os cânones polifônicos repetidos ao infinito e o grande silêncio de uma igreja onde os espaços não são barreiras, como em um quadro de Rothko.
Nesse clima precursor, a comunidade e milhares de hóspede praticam a intercomunhão: isto é, o acesso à eucaristia celebrada em grande parte segundo o rito católico, também por parte de protestantes e ortodoxos.
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Visite o sítio: http://www.taize.fr/

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