domingo, 9 de agosto de 2009

A PERGUNTA POR DEUS

Na história da humanidade, o homem sempre se questionou e se deixou influenciar pela idéia[1] de que exista uma força capaz de ter criado a tudo e que ao mesmo tempo comandava toda a realidade. Nas diversas culturas humanas a idéia desta força superior se faz presente, mesmo naquelas culturas religiosas que veneram os elementos visíveis como o sol, a lua, ídolos, entre outros. Assim, torna-se evidente para todos nós que o fenômeno religioso sempre vem acompanhado da busca desta força superior algumas vezes visível, mas inalcançável e invensível. “Trata-se de uma inquietude que emerge em formas distintas nos momentos cruciais da humanidade, quando percebe mais profundamente a necessidade de sentido e cobra consciência do irreversível”.[2]
Podemos agora colocar a questão: por que o ser humano se inquieta tanto a ponto de querer afirmar a existência de um deus [3]? Mas, acima de tudo, podemos afirmar a necessidade do homem de tantas vezes explicar a realidade e também de justificar o porquê de tantas coisas e ainda mais buscar refúgio para suas necessidades querendo que essa força superior atenda os seus pedidos. Juan de Sahagún Lucas afirma que “as diferentes afirmações sobre Deus revestem então o caráter de aproximações graduais e complementárias a uma instância ou entidade misteriosa que confere sentido pleno a existência humana e fixa o destino da história”[4]. Dessa forma, a pergunta sobre deus quer ser uma afirmação sobre sua existência na medida em que busca sentido pleno da vida.
É verdade também que a pergunta por deus é também uma busca, porque essa idéia de uma força superior existe na história, nos antepassados, ou seja, constitui uma idéia que recebemos, que são passadas depois para cada nova geração. Por isso, perguntar-se é antes querer fazer a experiência[5] da divindade. Portanto, podemos afirmar com Juan Lucas que a pergunta sobre a idéia de uma força maior “não parte da ignorância total, mas de um conhecimento inicial imperfeito que deseja completar até o limite de suas possibilidades”[6].
Historicamente, a idéia sobre deus aparece a partir de uma insatisfação que inquieta o humano e o faz buscar uma realidade sem defeitos, absoluta e que seja fundamento de tudo e torna-se uma meta que plenifique a sua vida[7]. Por isso, se na história a idéia de deus se apresenta como uma concepção preenchida de condicionamentos epocais, temos que ao longo do estudo também levar em consideração os acontecimentos de cada período histórico para podemos discernir sobre idéias afins de deus. “Daí a necessidade de distinguir entre o contexto tradicional e o atual no fundamento da questão de Deus[8].
O problema religioso se funda, antes de tudo, em uma experiência do sagrado, que se radica no indivíduo humano, embora fique condicionada na sua manifestação exterior às estruturas do grupo social em que o indivíduo se insere. Esta experiência pode ter no indivíduo maior ou menor intensidade, maior ou menor clareza, maior ou menor dinamismo, segundo a disposição psicológica de cada um. De acordo com estas disposições individuais, ele atua no grupo social acentuando suas tendências ou modificando-as como no caso dos grandes reformadores como Moisés, Jesus, Maomé e etc.
A vida humana, estendida entre seu nascimento e morte e determinada pela lembrança e expectativa, tem uma constituição essencialmente temporal. A própria experiência de Deus e seu conhecimento são transmitidos a nós seres humanos em termos históricos, e somente nestes termos históricos é que podem ser transmitidos[9]
Sem deixar de lado a objetividade e o valor da pergunta sobre deus, o que interessa neste momento é a questão de quem parte a pergunta sobre a divindade em cada período histórico, especialmente hoje, num horizonte de mundo no qual o homem tem trabalhado incansavelmente para desvendar seus mistérios[10] e coloca deus como uma hipótese de trabalho. “Cria, assim, um mundo tecnificado, cujas características principais são profanidade e o propósito intencionado de compreender-se a si mesmo e ao mundo que o rodeia prescindindo do metaempírico e transcendental”[11].
_______________________
[1] Será adotado o termo “idéia” em vez de “fé” para que não precisemos abordar sobre essa questão que não é conveniente agora.
[2] LUCAS, Juan de Sahagún. Dios, horizonte Del hombre. Madrid: Biblioteca de los autores cristianos. Sapiência Fidei: serie de Manuales de Teologia 2003. p. 3
[3] Não utilizo o termo deus em maiúsculo por não se referir a uma divindade específica de uma religião, mas no sentido genérico.
[4] LUCAS, 2003, p. 03
[5] A discussão sobre a questão da experiência da divindade não é para nós importante nesta postagem.
[6] LUCAS, 2003. p. 05
[7] cf. LUCAS, 2003, p. 05
[8]LUCAS, 2003, p. 03
[9]SCHNEIDER, Theodor (org.) Manual de Dogmática. Petrópoles: Vozes, 2002 v. I, 2ª ed, p. 53
[10] cf. LUCAS, 2003, p. 03
[11] id. Ibid, p. 06
MDT
Imagem: http://artedartes.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário