sábado, 15 de agosto de 2009

A modo de continuação

Seguindo as reflexões anteriores (dias 28/07/2009 e 03/08/2009) procuramos neste breve trecho abordar como fica a questão da fé no mundo factual.
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Por frei Arnaldo Aragão ofm conv
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A princípio é bom ter presente que ninguém profere palavras sobre algo desconhecido. Em matéria de fé não podemos pensar ou proferi palavras fora da própria fé; pois quando falamos sobre fé logo nos vem à mente palavras tão conhecidas nossas, a saber, Deus, Jesus, Espírito Santo, céu, transcendência, ressurreição, vida eterna... estamos envoltos nestas palavras, porém podemos tê-las de dois modos:
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A modo de ciência e a modo de encontro/chamado

Falar da fé a modo de ciência é ter diante de si um objeto-objetivado do qual proferimos elucubrações sobre sem necessariamente nos comprometer com este determinado objeto – existente aí fora de nós; falar da fé a modo de encontro/chamado não pressupõe uma relação divida entre sujeito-objeto ou causa-efeito ou ainda eu-mundo, pelo contrário, eu e o mundo circundante contingencial somos um, sem confusão e sem divisão, porque se estamos falando de encontro que temos claro quem é o transmissor e o receptor.
Vejamos dois exemplos bíblicos que nos ajudam a visualizar isto que proferimos: Respondeu Faraó: “Quem é Iahweh para que eu ouça a sua voz e deixe Israel partir? Não conheço Iahweh, e tampouco deixarei Israel partir”. Eles disseram: “O Deus dos hebreus veio ao nosso encontro”. (Ex 5, 2-3a). Moisés e Aarão sabem claramente qual a sua missão e quem os incumbiu dela.
“Crede-me:
eu estou no Pai e o Pai em mim.
Crede-o, ao menos, por causa dessas obras”.
(Jo 14, 11). Sem adentrar muito nos diversos questionamentos teológicos que este versículo propõe, ficaremos naquilo que ele sugere a primeira vista, a saber, que Jesus aos poucos tomar consciência da sua missão e sobre quem o incumbiu para.

Nestes dois exemplos não encontramos uma explicação “justificacionistas” de Deus; estes personagens que aí aparecem, a saber, Moisés, Aarão e Jesus sabem do que estão falando e porque estão agindo deste modo. Somente um buscar Deus no cotidiano da nossa existencial conseguiremos nos envolver com um Deus que está além da emoção e dos pios afetos propostos por essa sociedade sensacionalista. O grande risco que essa sociedade apresenta é o de transformar o Deus de Jesus Cristo num espetáculo, onde o mistério desaparece e o nosso EU aparece gratificando-se com lágrimas e gritos emocionais. Fé não pode ser compreendida como sentimento, é encontro. Não podemos pensar Deus fora do mundo factual, mesmo que, às vezes, preferimos fugir dele. A grande tentação do Cristão é querer buscar soluções fora do mundo circundante.

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