quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Vocação, entre o querer e o dever. A liberdade como direito e obrigação do humano

Todo ser humano é um ser de desejos, projetos, planos, perspectivas, esperanças. A história humana se constrói a partir destes âmbitos primordiais. Mesmo quando houveram tragédias devido ao uso indevido destes dons, ainda assim não podemos deixar de nos admirar de dons tão magníficos. Mesmo que durante a vida alguém deixe de lado estas características, sempre acontecerão lampejos de querer que impulsionam e fazem crescer a si mesmo interiormente e todo o conjunto da sociedade humana. Isso tudo nada mais é do que o querer de Deus que nos ama assim e não de outro jeito.

Toda vocação imprime em si uma missão, que está orientada para o bem comum, caso contrário implicará em grave falha social. O grande especialista neste assunto, José Lisboa Moreira de Oliveira faz coro nesta certeza asseverando que “a vocação é, pois, o chamado de Deus dirigido a toda pessoa humana, seja em particular, seja em grupo, em vista da realização de uma missão ou serviço em favor da comunidade. Como tal atinge todos os seres humanos, pois todos e todas são convocados por Deus (...).”* Entrementes, toda vocação tem que responder a uma realidade externa que lhe é imprescindível, ou seja, sem uma real maximização (difusão) de suas ações para a repercussão de atos essencialmente possibilitadores concretos da vida em plenitude, a que todas as pessoas se destinam, não encontraremos uma organização social que torne vigente a distribuição igualitária dos dons recebidos.

O querer pessoal vem acompanhado do dever, da obrigação, o que nos faz acreditar que em tudo o que almejamos estaremos submissos às reais implicações das escolhas, pelo justo compreender e saber que não é a pessoa a criadora da vocação, senão Deus mesmo que concede. A iniciativa de chamar é de Deus e nós entramos nessa dinâmica respondendo de acordo com nossa liberdade (cf. Lisboa). Entender a vocação como encontro de duas liberdades que dialogam e, além do mais, dispor a liberdade no âmbito do direito pessoal e comunitário e também situá-la na linha do dever, muda nossa perspectiva de visão básica e corriqueira. O dever da liberdade foi sendo esquecido de acordo com o abuso que dela foi sendo efetuada. No Iluminismo, com a super exaltação da razão como luz e deus do homem (chegando ao ponto baixo de discriminar, denominando outros períodos de Idades das Trevas, como a Idade Média que se assentava sobre o alicerce da fé), causando um abuso sem precedentes da liberdade humana entendida como “faça o que der na telha”.

A Liberdade é o cerne mais fundamental da pessoa humana, por que é o que Deus nos concedeu de si mesmo. A nossa liberdade é a assinatura de Deus na criação toda.
MDT
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*OLIVEIRA, José Lisboa Moreira de. Teologia da vocação: temas fundamentais. São Paulo: IPV/Loyola. 1999
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